27 de novembro de 2024

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Artigo: Apostar em diversidade étnica e racial é o caminho para potencializar pesquisas clínicas no Brasil

Guilherme Sakajiri*

Foto: Freepik

O Guia 2022 Interfarma apontou que o Brasil ainda ocupa apenas a 19º colocação no ranking global de estudos clínicos, ficando atrás de países como Egito, Taiwan e Índia. Embora possua um enorme potencial para realização de pesquisas clínicas devido a sua numerosa população, o Brasil ainda sofre com a falta de investimentos no setor. 

Aumentar os investimentos certamente ajudaria no desenvolvimento de novas opções de terapias para os pacientes, facilitando o acesso a essas alternativas e reduzindo os custos com internações e consultas. Com mais de 200 milhões de habitantes, o grande potencial do Brasil na realização de estudos clínicos é a variedade étnica/racial.

E apostar nessa diversidade é exatamente a nossa melhor saída para atrair mais recursos para os estudos e escalar a participação global do país no desenvolvimento de novas opções de tratamento.

A miscigenação racial presente no Brasil favorece os resultados dos estudos quando uma amostra heterogênea se faz necessária. Devido à diferença de metabolismo de uma pessoa para outra, é necessário recrutar um vasto número de pacientes demograficamente distintos, a fim de possibilitar variedade genética, racial e cultural. E é nesse contexto que nos saímos muito bem, pois somos um país numeroso.

Quando consideramos a incidência e gravidade das doenças, os resultados podem variar de acordo com a etnia e com os hábitos culturais. Em casos de medicamentos oncológicos eficazes quando testados na Ásia, por exemplo, não demonstraram o mesmo benefício quando testados em países do Ocidente. E esses são só alguns dos motivos que ressaltam a importância de uma diversidade étnico-racial durante as análises de dados e pesquisas clínicas.

Além disso, o Brasil ainda conta com instituições altamente capacitadas para a realização de estudos de qualidade, como o Hospital do Amor (Barretos) e o AC Camargo, trazendo maior qualidade e efetividade nos processos.

Entretanto, embora a pesquisa clínica venha crescendo a cada ano no Brasil, o mercado nacional ainda é bastante incipiente. Porém, isso vem mudando rapidamente e a iminente aprovação do Marco Legal de Pesquisa Clínica em discussão no Congresso Nacional pode ser o caminho para alcançarmos o potencial do país, tornando o processo regulatório mais simples e ágil.

Uma pequena amostra disso foram os estudos da vacina do Covid-19, em que o Brasil superou todos os países da Europa em termos de número de participantes em pesquisas de fase II e fase III.

Nosso país, portanto, necessita de uma política pública de investimento na pesquisa clínica, além de facilitar o processo regulatório. Nós temos muito potencial para figurar entre os dez primeiros colocados no ranking de estudos clínicos. 

Para isso, investir em tecnologia, ampliar a divulgação dos estudos clínicos em andamento e estabelecer parcerias com outros players, como empresas farmacêuticas e instituições privadas, são caminhos viáveis para fomentar a pesquisa clínica no Brasil. 

*Guilherme Sakajiri é CEO da Comsentimento, primeira startup do Brasil a usar IA e análise de dados para encontrar as melhores alternativas de tratamentos para pacientes com câncer. O executivo acumula passagens em empresas referências na área da saúde como Optum e Semantix. Formado em Engenharia Naval pela Poli/USP e com MBA pela INSEAD (França e Cingapura), já empreendeu anteriormente à frente da TagFit, uma healthtech focada em diabetes e terapias digitais. O profissional também participa das principais comunidades de padrões de dados e é co-fundador da comunidade OMOP Brasil.

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