25 de novembro de 2024

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Educação antirracista fora do papel: 7 em cada 10 educadores já vivenciaram uma situação de racismo nos últimos 5 anos

Foto: Pixabay

Pesquisa inédita com professores de todo o Brasil aponta que a Educação antirracista está longe do ideal nas escolas. Somente 5% afirmam que há iniciativas totalmente implementadas dentro dessa temática

São Paulo, novembro de 2023 – Uma pesquisa realizada pela Nova Escola, organização de impacto social que tem como missão fortalecer educadores para transformar a Educação pública brasileira traz dados inéditos sobre a percepção dos professores em relação ao racismo e à Educação Antirracista nas escolas públicas e privadas do país. A pesquisa é realizada em parceria com a B3 Social, Talk, Fundação Lemann, Instituto Natura, Imaginable Futures, DaCor e apoio do Instituto Vini. Jr.

O estudo, apresentado em evento realizado na Arena B3, aponta que 7 em cada 10 professores/as já vivenciaram ou presenciaram uma situação de racismo nos últimos 5 anos e metade, 5 em cada 10, declaram que as situações de racismo são extremamente presentes em seus locais de trabalho. Nesse contexto, mais da metade (56%) dos professores pretos alegam que já se sentiram vítimas de discriminação racial no ambiente escolar e temem, ou já temeram, por sua integridade física, moral e/ou profissional. Como solução, a pauta da Educação antirracista é citada pela maioria dos educadores: 87% acreditam que é necessário aplicá-la nas escolas. Foram ouvidos 1.605 professores e gestores da rede pública e privada de ensino.

De onde vem o racismo

A pesquisa mostra que os educadores apontam os estudantes e seus familiares como os principais autores: 73% dos respondentes indicam os estudantes como realizadores dos atos de racismo, e 28% sugerem que o racismo parte dos familiares.

O perfil das principais vítimas também aponta que os estudantes estão em primeiro lugar (81%), seguido dos professores (30%), familiares de estudantes (12%), gestores (4%) e outros profissionais (13%).

O racismo é comum dentro do próprio corpo docente, segundo educadores ouvidos pela pesquisa. “Muitas vezes, recebemos estudantes que vão denunciar professor racista e, quando o professor é chamado para o diálogo, a resposta dele sobre o aluno é: pessoas pretas não prestam”, conta uma gestora negra de 41 anos, de Apuiarés, no Ceará.

Situações como essa fazem com que o racismo apareça em 2º lugar como o maior problema ligado à intolerância e discriminação do ambiente escolar para 45% dos professores pretos. A problemática só perde para o bullying (54% dos educadores pretos o elegem como a maior questão do momento). Os dados são diferentes para os educadores no geral: 51% acreditam que o maior problema é o bullying, 41% citam os transtornos de aprendizagem (dislexia, TDAH, entre outros), 37% falam em preconceito em relação à aparência física, 36% citam o racismo e 32% os preconceitos relacionados à identidade de gênero e orientação sexual.

“O racismo em forma de piada é muito comum durante a infância e a adolescência, mas os seus impactos na autoestima das crianças negras também são nocivos. Assim como a violência explícita, esse racismo ‘recreativo’ também atrapalha a convivência e o aprendizado dos alunos negros”, conta Paolla Vieira, Gerente Pedagógica da Nova Escola.

Posição das escolas

O estudo também busca mapear como as escolas estão se envolvendo e o que têm feito para solucionar o racismo na prática. Os dados mostram que, apesar de a maioria dos professores (59%) declararem que existe um trabalho voltado à Educação antirracista no local onde trabalha, a maioria está em estágio inicial ou intermediário. Somente 5% afirmam que há iniciativas totalmente implementadas.

Ainda assim, os educadores identificam apoios da área da Educação. Segundo 22% dos educadores, o apoio se dá principalmente por meio de capacitações e treinamentos oferecidos pela diretoria de ensino e/ou secretaria de Educação, 20% citam o apoio predominante de projetos independentes de professores, 14% falam em recursos educacionais e materiais específicos e 13% em projetos de coletivos ligados à diversidade.

“Apoiar projetos e políticas públicas que trabalham por uma educação antirracista é fundamental para a construção de uma sociedade inclusiva, diversa e equânime. Sempre nos atentamos para que o nosso investimento não reforce desigualdades”, comenta Fabiana Prianti, Head da B3 Social. Em relação a conteúdos relacionados à população negra, apesar de 88% dos entrevistados afirmarem que a cultura e história africana, afro-brasileira e indígena fazem parte dos conteúdos abordados, 1 em cada 4 educadores não conhecem os principais autores negros como Milton Santos, Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo, Angela Davis, entre outros. Outro dado impactante é que 62% dos educadores não se sentem bem preparados para tratar o tema racial nas salas de aula.

“Os autores negros e a história africana e afro-brasileira precisam ser trabalhados nas escolas para reforçar a representatividade e auxiliar no combate ao racismo. A escola pode ser um dos piores lugares para as crianças negras, que aprendem sobre história vendo os negros chegando ao Brasil como escravos. Mas essa não é a história completa dos povos negros, a representatividade precisa ser contada também de forma positiva para que as crianças se sintam confortáveis com a sua identidade”, completa Paolla.

Como trabalhar a Educação antirracista

De acordo com Paolla, a criação da Lei 10.639, que obriga o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nas escolas, não é o suficiente quando não sai do papel. A pesquisa aponta que 94% dos professores conhecem a lei, mas somente 31% afirmam que ela está sendo aplicada de forma abrangente e efetiva, 49% alegam que está sendo aplicada de forma parcial, e 34% dizem que não está sendo aplicada ou não saiu do papel.

“O estudo mostra que o racismo está sendo mais pautado nas escolas, o que é um reflexo da sociedade como um todo. Porém, ainda que o tema esteja sendo abordado, ainda não existe fomento ao conhecimento ou práticas pedagógicas consolidadas para solucionar o problema na prática. Esse padrão é apontado tanto por educadores das escolas públicas quanto dos colégios particulares, o que demonstra que estamos lidando com uma questão da Educação brasileira como um todo”, conclui Paolla. Diante desse cenário, os educadores apontam para recomendações que envolvem diversas áreas. Entre elas estão:

– Envolver as famílias e toda a comunidade escolar;

– Construir um Projeto Político Pedagógico que inclua o compromisso com a pauta;

– Ter um plano de ação pré-definido para atuar em casos de discriminação e racismo;

– Criar um espaço de reflexão e análise das práticas pedagógicas;

– Ter um acervo de materiais didáticos que tratam da temática étnico-racial;

– Palestras com especialistas.

“A Educação Antirracista é pauta urgente na comunidade escolar, pois a formação de uma geração mais consciente de suas origens, comprometida com a diversidade e, sobretudo, igualitária, passa pela sala de aula. Por isso, abrir espaços para escutas e trocas neste campo é fundamental. Nós acreditamos muito no protagonismo do professor como multiplicador dessa mensagem e seguiremos atuantes para ajudar a combater qualquer prática racista dentro e fora dos muros da escola”, comenta Victor Ladeira, diretor executivo do Instituto Vini Jr.

Como referência absoluta no conteúdo para professores desde 1986, a Nova Escola conquistou em novembro de 2022 o Selo de Equidade Racial, promovido pela Prefeitura de São Paulo para reconhecer instituições e organizações privadas que atuam com ações e políticas afirmativas e que, além disso, têm ao menos 20% de pessoas negras em seus quadros de funcionários.

Metodologia e público

O estudo contou com 1.605 entrevistas realizadas de forma online, com 20 minutos de duração, disparada pela Nova Escola em sua base e canais de comunicação.

83% dos profissionais são professores e 17% gestores. 85% são da Rede Pública, 63% da Rede Municipal e 87% residem da área urbana central e periférica. 50% atuam com os anos iniciais do Ensino Fundamental; 42% com os anos finais do ensino fundamental; 33% com a educação infantil; 18% com Ensino Médio; e 6% com EJA.

80% são mulheres, 16% são homens e 4% outros. 42% são pessoas brancas, 56% negras (17% pretas e 39% pardas).

50% residem na Região Sudeste, 24% na Região Nordeste, 12% na Região Sul, 7% Região Centro-Oeste, e 6% da Região. A maioria (58%) são da classe B, 36% classe C, 4% classe A e 3% classe D/E.

9% têm entre 20 e 30 anos; 25% têm entre 31 e 40 anos; 37% têm entre 41 e 50 anos. 24% têm entre 51 e 60 anos, e 5% têm 61 ou mais.

Sobre a Nova Escola

A Nova Escola é uma organização de impacto social, sem fins lucrativos, que tem como missão fortalecer educadores para transformar a Educação pública brasileira e possibilitar que os alunos desenvolvam o máximo de seu potencial. Referência absoluta no desenvolvimento de conteúdo para professores desde 1986, quando atuava no segmento de revista impressa, em 2015, com o apoio da Fundação Lemann, transformou-se em uma plataforma digital, com mais de 3 milhões de acessos mensais. Produz Reportagens, Cursos autoinstrucionais, Formações, Planos de Aula e Materiais Educacionais, gratuitos, para apoiar professores, coordenadores pedagógicos e diretores que atuam na Educação Básica das escolas públicas brasileiras. Saiba mais em www.novaescola.org.br.

Sobre o Instituto Vini Jr.

O Instituto Vini Jr. é um sonho antigo do jogador e da família. Assim como trabalhar com o tema Educação. O Instituto foi criado em 2020 como uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, cuja proposta de valor se ampara no Artigo 205 da Constituição Federal de 1988, que reconhece a educação como direito de todas e todos e dever do Estado e da família, sendo promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Assim, se propõe a desenvolver colaborativamente com as escolas públicas brasileiras inovações nos processos de ensino-aprendizagem, que atendam a diferentes realidades escolares, territoriais e geracionais, oportunizando a autonomia dos educandos, a integração da família nos processos educativos e o suporte aos educadores das redes públicas de ensino.

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