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Brasil lidera investimentos internacionais no setor, mas, apenas 3,8% das unidades consumidoras do país (UC’s) produzem a sua própria energia
O Brasil tem se tornado, cada vez mais, um país de referência quando o assunto é o uso de fontes sustentáveis. De acordo com um relatório da ONU, o Brasil emergiu como líder em investimentos internacionais no setor de energias renováveis. Ainda assim, dados da Associação Brasileira de Geração Distribuída apontam que apenas 3 milhões das Unidades Consumidoras (UC’s) do país produzem a sua própria energia. O “apenas” foi pontuado pois o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor aponta que existem aproximadamente 81 milhões de UC’s no país. Sendo assim, o número de Unidades Consumidoras que geram a própria energia é equivalente a menos de 4%. Jean Albino afirma que este é o reflexo de um país formado majoritariamente por “consumidores leigos”.
Jean Albino é responsável pelo regulatório da startup de soluções energéticas Lead Energy e possui experiência no setor de energia há mais de três décadas. Segundo ele, mesmo com o avanço na geração de energia através de fontes renováveis, o assunto ainda é considerado “desconhecido” por grande parte da população: “Certamente existe muito desconhecimento. A energia elétrica é muito abstrata para o leigo. É algo que não é visível, a pessoa enxerga apenas os efeitos da eletricidade, mas não a coisa em si.”
Uma projeção da Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres), pontua que os brasileiros irão pagar, até o fim de 2023, cerca de R$ 119 bilhões de reais a mais na conta de energia, representando a aplicação de impostos e subsídios somente neste ano. O especialista afirma que, essa falta de discernimento sobre as formas de economizar energia e consumi-la de maneira sustentável está ligada a um fator muito mais profundo do que imaginamos: os ruídos no sistema educacional do país. “Dentre as principais causas para o desconhecimento, está a deficiência na qualidade da educação do Brasil. É na escola que são – ou deveriam ser – ensinados os conceitos de energia elétrica e de como os equipamentos funcionam.”
Jean ainda relaciona a deficiência do ensino com as regiões periféricas do país. “Esse desconhecimento depende da qualidade do ensino e da capacidade de evitar a evasão escolar. Nessas regiões, a dinâmica econômica é menor e isso tem influência no nível educacional.” A favela Marte, localizada em São José do Rio Preto, será a primeira e única favela do país a ser totalmente autossustentável na geração de energia elétrica, por exemplo. O projeto instalará painéis solares em cerca de 240 moradias e ainda não foi finalizado.
Mesmo que o empecilho do desconhecimento seja comprobatório, o especialista reitera que o acesso à fontes sustentáveis e a algumas formas de economizar estão abertas a todos, mas que, sem dúvidas, o pequeno consumidor está apto a diversas limitações. “O acesso a formas de economizar e consumir energia limpa são inclusivas no sentido de estarem disponíveis para todos, sem exceção. Porém, a escolha da melhor modalidade tarifária requer conhecimento que o leigo não tem, ele precisa de apoio especializado para decidir e, para o consumidor comum, hoje em dia há apenas a tarifa branca, de utilidade restrita. Não há grande incentivo para economizar, ainda mais no caso de consumidores com baixa renda, onde a tarifa é subsidiada e não incentiva o consumo eficiente.”
Por fim, Jean menciona caminhos que poderiam propiciar a economia de energia e o seu consumo de forma sustentável, sem a necessidade de grandes investimentos: “Existe a possibilidade de o consumidor ingressar numa cooperativa de geração compartilhada (minigeração distribuída solar, por exemplo) e pagar preços menores pela energia. Já para reduzir o consumo é preciso ter eletrodomésticos modernos, que consomem menos e adotar uma rotina de parcimônia no seu uso. A longo prazo, creio que seja preciso criar um programa permanente de informação e conscientização da sociedade através dos meios de comunicação, para despertar a relevância do tema e orientar sobre os melhores caminhos, além da introdução incentivos econômicos para os consumidores reduzirem ou adequarem seu consumo nas horas de maior estresse do sistema.”