Dificuldades de audição podem prejudicar também a fala e a compreensão das crianças. CRÉDITO: José Estevam
Dificuldade de ouvir pode prejudicar o desempenho escolar. Escola de Curitiba promove capacitação dos professores para ajudar na identificação do problema
A audição tem um papel crucial no desenvolvimento cognitivo das crianças, especialmente durante os primeiros anos escolares. A dificuldade de ouvir pode ocasionar atraso no desenvolvimento da linguagem e dificultar a interação social e comportamental da criança. No entanto, muitos problemas auditivos passam despercebidos para pais, educadores e até para as crianças. Por isso, a orientação dos especialistas é que a avaliação auditiva entre na rotina anual de cuidados com os filhos.
A fonoaudióloga Cristiane Pineroli Bochnia faz triagem auditiva há 20 anos e diz que, em média, entre 35% e 45% das crianças avaliadas anualmente apresentam algum tipo de problema. Os mais comuns são otites, perda auditiva unilateral e produção excessiva de cera. “A perda auditiva, muitas vezes, é confundida com distração, falta de atenção das crianças. Algumas dessas doenças não apresentam sintomas e fica difícil identificar”, explica. “Se a criança já nasceu com perda auditiva unilateral, por exemplo, o cérebro se adapta e ela nem percebe a dificuldade. Mas, identificando o problema, é possível atuar em estratégias para conviver melhor com ele, especialmente na sala de aula.”
Professores como aliados
Professores são grandes aliados para antecipar diagnóstico de deficiência auditiva, e devem ser treinados para reconhecer sinais. No Colégio Santo Anjo, que tem o maior número de crianças em pré-escola em Curitiba, a capacitação dos professores segue um programa anual. Todo ano, também, os alunos passam por uma triagem, o que ajuda os pais a buscar ajuda, quando é o caso.
“A dificuldade de audição pode prejudicar muito o desempenho escolar e o desenvolvimento das crianças. Por isso, é importante que os professores estejam capacitados e bem informados, e que possam ajudar a identificar alguma alteração que não seja compatível com a idade”, explica a Assessora Pedagógica Franciele Fagundes.“Eles também são orientados a incluir na rotina acadêmica técnicas de estímulo fonoaudiológico adequadas à cada faixa etária.”
Cristiane explica, ainda, que existe uma diferença entre audição e audibilização – que é o processamento no cérebro do que a pessoa está ouvindo. “Alguns problemas de audição podem prejudicar o processamento da informação que a criança está ouvindo. E isso provoca uma dificuldade grande de aprendizagem na escola. Nesse caso, é preciso um treinamento para estimular as vias auditivas”, completa. “Por isso é super importante que os pais estejam atentos e que não achem simplesmente que os filhos são distraídos. Com acompanhamento profissional é possível avaliar a situação e tratar da melhor forma. E a melhora na escola e em casa é nítida.”
Valentin Andria da Silveira, de 4 anos, é aluno do Colégio Santo Anjo e participou da triagem promovida pela escola. Foi assim que a mãe, Jaquelliny Andria, descobriu que a dificuldade de fala do filho estava relacionada a um problema de audição. “Com alguns meses de rotina escolar, percebemos a disfluência na fala do Valentim e também fomos alertados pela professora. Com a triagem e o apoio da fonoaudióloga, nós começamos o tratamento dele e, com poucas sessões, já identificamos uma melhora muito significativa na fala. Ele também parece estar mais seguro”, conta a mãe.
Sinais de perda auditiva
Os pais devem estar atentos a sinais que podem indicar problemas auditivos, tais como:
- Dificuldade de seguir instruções ou acompanhar uma conversa mais longa;
- Pedir frequentemente pede para repetir o que foi dito;
- Aumentar excessivamente o volume da televisão ou de outros dispositivos;
- Não responder quando é chamada, especialmente se não estiver olhando para quem a chama;
- Fala de maneira incompreensível, dificuldade de pronunciar determinadas palavras, ou mesmo atraso na fala;
Dificuldade para se concentrar e acompanhar as aulas.