Sérgio Kignel, dentista e doutor em Diagnóstico Bucal / Foto: Divulgacao Sérgio Kignel
A halitose, presente em 1 em cada 3 pessoas no mundo, raramente é originada no estômago. Nove entre dez casos estão associados à boca. Sinusite, traqueíte e amigdalite também favorecem essa condição
A halitose, popularmente conhecida como mau hálito e bafo, é a terceira causa mais comum de encaminhamento ao dentista depois da cárie dentária e das doenças periodontais. Globalmente, estima-se que 31,8% da população em geral sofre desta condição (1). De acordo com a Associação Brasileira de Halitose (ABHA), nove entre dez casos de mau hálito estão relacionados a algum transtorno bucal, como a baixa salivação, doenças bucais ou até uma dieta desequilibrada. Ao todo, são mais de 50 origens.
Isso ocorre pelo fato de a boca ser um ecossistema no qual vivem centenas de espécies de bactérias com diferentes necessidades nutricionais. Ao serem digeridas pelas bactérias, são liberadas substância que têm mau cheiro, como o gás sulfídrico, que tem um odor que se assemelha ao de um ovo estragado. Por conta da repulsa causada pelo bafo, a halitose está entre as cem doenças mais angustiantes em humanos. (2)
“A halitose é um sinal de que algo não vai bem com o nosso corpo. Ao contrário do que muitos pensam, de que o problema está no estômago, a causa está quase sempre na boca. E em raras situações, cerca de 5% dos casos, é causada por infecções próximas à boca, como sinusites, traqueítes e amigdalites”, explica o dentista Sérgio Kignel, doutor em Diagnóstico Bucal, professor titular da disciplina de Semiologia do Centro Universitário Hermínio Ometto (UNIARARAS) e diretor da Clínica Sérgio Kignel.
Mau hálito não costuma ser percebido
Motivo de grande constrangimento, o mau hálito costuma ter um odor desagradável, não percebido por aqueles que exalam. A resposta para isso está na fadiga olfativa. “Um exemplo é quando você coloca aquele perfume maravilhoso. Nos primeiros minutos após aplicação você sente a fragrância. Depois, você deixa de senti-la, mas os outros ainda sentem o perfume. Isso ocorre porque o seu olfato se acostumou com o cheiro. O mesmo ocorre com o mau hálito”, detalha Kignel.
O mau hálito, em algum grau, ocorre assim que se acorda, por conta da decomposição de células que revestem a boca, assim como pela influência do tempo que permanecemos em jejum e em decorrencia também da diminuição da carga de salivação, que ocorre quando dormimos. Essa é a chamada halitose transitória. “Após tomar o café da manhã e escovar os dentes, o normal é o mau hálito desaparecer. Caso ele persista, é necessário procurar tratamento”, relata.
As causas da halitose
Encontram-se identificadas mais de 50 causas para a alteração do hálito, que podem ter origem em vários fatores, bucais e não bucais, fisiológicos ou patológicos. A halitose varia, inclusive, com o período do dia e a idade da pessoa. Dentre os fatores bucais, se destacam as cáries e doenças da gengiva. “As causas mais comuns são a higiene oral inadequada, com consequente formação da saburra lingual e placas dentárias”, afirma.
A saburra, explica o dentista, é a crosta esbranquiçada ou amarelada que se forma na superfície da língua. Ela é composta pelos restos de alimentos e de células que vão se descamando ao longo do tempo e vão se aderindo à língua. “Por conta disso, a limpeza da língua é tão importante quanto escovar os dentes e passar fio dental. Podem ser utilizadas escovas bem fininhas ou raspadores próprios para essa finalidade. E não há necessidade de uso da força. O ideal é escovar a língua suavemente”, ensina Kignel.
Com relação às causas extrabucais, as mais comuns são as doenças do fígado, tabagismo, deficiência de vitamina A e D, perturbações do sistema gastrointestinal, diabetes, intestino preso e estresse. “O estresse também figura entre as causas de mau hálito, por conta da redução de fluxo de saliva, que leva à xerostomia (boca seca). É o caso também de quem faz uso de ansiolíticos”, explica. As bebidas alcoólicas e diversos alimentos, principalmente os que apresentam excesso de gordura animal e proteína, além do alho, cebola e frituras, também devem ser lembrados como causa da halitose.
Recomendações
- Escovar suavemente os dentes e gengivas pelo menos duas vezes por dia durante dois minutos;
- Beber bastante água, pelo menos dois litros por dia, para manter a boca sempre umedecida;
- Evitar permanecer muitas horas sem alimentar-se;
- Se certificar que os níveis de glicemia estão dentro da normalidade e que o funcionamento do estômago, rins e intestino não apresentam nenhuma alteração;
- Utilizar, de vez em quando, goma de mascar ou balas sem açúcar, que ajudam a aumentar a salivação;
- Usar creme dental com flúor;
- Limpar suavemente a língua uma vez por dia usando um raspador de língua ou limpador;
- Limpar os dentes com escovas interdentais ou fio dental pelo menos uma vez por dia;
- Ir ao dentista regularmente;
- Manter as dentaduras limpas e removê-las à noite;
- Usar balas ou gomas de mascar sem açúcar depois de ingerir alimentos e bebidas com cheiro forte;
- Tentar usar enxaguatório bucal antibacteriano sem álcool;
- Não fumar;
- Evitar alimentos e bebidas açucaradas;
- Não escovar com tanta força que suas gengivas ou língua sangrem;
Referência bibliográfica
1 – Silva MF, Leite FRM, Ferreira LB, Pola NM, Scannapieco FA, Demarco FF, et al. Estimated prevalence of halitosis: a systematic review and meta-regression analysis. Clin Oral Investig. 2018;22(1):47–55
2 – Bollen CM, Beikler T. Halitosis: the multidisciplinary approach. Int J Oral Sci. 2012 Jun;4(2):55-63
Sobre a Clínica Sérgio Kignel – A Clínica Sérgio Kignel, além do tratamento odontológico convencional, atua em saúde bucal e prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças relacionadas com a boca. É dirigida por Sérgio Kignel, dentista graduado pela OSEC, mestre e doutor em Diagnóstico Bucal pela Universidade de São Paulo e professor titular da disciplina de Semiologia do Centro Universitário Hermínio Ometto (UNIARARAS). Autor do livro Estomatologia-Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral, obra que, em 2007, recebeu o primeiro lugar do Prêmio Jabuti na categoria Ciências Naturais e Ciências da Saúde.