23 de novembro de 2024

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Agosto Lilás: por que é tão difícil sair de uma relação abusiva?

Imagem: Pixabay

Mesmo vivendo sob controle, manipulação, abuso emocional, físico, ou psicológico, a vítima de relacionamento tóxico tem dificuldades de romper com o abusador


               Ao tomarem conhecimento de que uma mulher está vivendo uma relação abusiva, muitas pessoas questionam o motivo dela não romper esse relacionamento. Para essas mulheres é difícil identificar que está vivendo uma relação tóxica porque a manipulação emocional distorce a percepção da realidade. O abusador minimiza seus comportamentos abusivos e culpa a vítima, fazendo com que ela duvide de suas próprias experiências e sentimentos. A vítima pensa que está enlouquecendo e que está realmente exagerando nas queixas. “O abusador convence que foi injustiçado e a vítima, confusa, se desculpa e, sem querer, dá mais poder ao abusador. Além disso, o ciclo de abuso, que alterna momentos de tensão e conflito com períodos de aparente arrependimento e afeto, cria uma falsa esperança de mudança. “Dessa vez vai” e “Ele vai mudar” são os pensamentos que mantém a vítima nesses relacionamentos de dor. A dependência emocional e o medo de ficar sozinha também tiram a capacidade de ver a relação como ela realmente é, se mantendo nesse ciclo de confusão e culpa”, esclarece a psicóloga Bárbara Couto, especialista em Relacionamentos.


            Além disso, o medo de retaliação, baixa autoestima, isolamento social e a falta de apoio externo contribuem para que a vítima se sinta presa na relação. A manipulação psicológica também faz com que a vítima se sinta culpada ou responsável pelo comportamento do abusador, dificultando ainda mais a decisão de sair. “Pessoas que viveram em um ambiente de violência na infância e juventude costuma achar normal estar em um relacionamento amoroso de violência. Se a vítima não conhece a paz, pode se sentir mais confortável em meio ao caos, mesmo sofrendo”, alerta a psicóloga.

Como identificar se está vivendo um relacionamento tóxico?        


            Um relacionamento tóxico é caracterizado por comportamentos prejudiciais, onde uma das partes exerce controle, manipulação,  abuso emocional, físico, ou psicológico sobre a outra. Há uma constante sensação de instabilidade, desrespeito e falta de apoio. A relação se baseia em padrões destrutivos, como ciúmes excessivos, possessividade, isolamento social, desvalorização, e uma dinâmica onde o bem-estar emocional de uma das partes é minado. “Esses comportamentos criam um ambiente de insegurança e ansiedade, onde a vítima pode se sentir presa, solitária, perdida e desvalorizada”, aponta Bárbara.
            Além da violência física e sexual, que são fáceis de se identificar, há outros tipos de violência em relacionamentos tóxicos, como a emocional, em que há manipulação, chantagem, humilhação, desvalorização e isolamento social, onde a autoestima da vítima é constantemente minada; a  psicológica, com presença de a ameaças, controle mental, gaslighting – fazer a vítima questionar sua sanidade – e indução de medo; e a financeira, onde há controle total sobre os recursos financeiros da vítima, impedindo-a de ter independência econômica.

Fatores que influenciam na continuidade de relacionamentos abusivos
               Existem fatores desempenham um papel crucial na continuidade de uma relação tóxica. Entre eles está a preocupação com o bem-estar dos filhos e o medo de prejudicá-los ao romper a família, acreditando que é melhor para os filhos terem ambos os pais, mesmo em um ambiente disfuncional. “Isso não é verdade, filhos precisam de amor, paz e tranquilidade para crescerem ajustados emocionalmente”, aponta Bárbara.
Algumas crenças religiosas também podem desencorajar o divórcio ou a separação, fazendo com que a mulher sinta que deve suportar o sofrimento para manter o compromisso religioso e a família. “Acreditam que a mulher sábia quem dignifica o lar e que por isso devem ficar tentando ou que se separaram estarão pecando. Essas crenças religiosas são dolorosas porque muitas se mantém infelizes, solitárias e aos pedaços apenas para manterem essa relação que machuca”, Acredita a psicóloga
               A dependência financeira do abusador é uma barreira significativa, já que sem recursos próprios, a mulher pode se sentir incapaz de sustentar a si mesma e aos filhos após a separação. Muitas mulheres são impedidas de trabalhar e acabam aceitando pela “paz” do relacionamento quando, na verdade, entregam sua vida ao controle do outro.A liberdade também precisa ser financeira. É importante entender que quem tem o dinheiro tem o poder”, alerta a profissional.
               O estigma social e a vergonha de admitir que está em uma relação abusiva pode fazer com que a mulher evite buscar ajuda, temendo o julgamento alheio. Cada  vez menor, mas ainda existe um olhar que desvaloriza a mulher que se separa, pessoas que se afastam e julgam essa mulher. O medo de carregar o estigma de fracasso também mantém as mulheres nessa relação. “Mas o mais doloroso nem é o olhar do outro, é confrontar as próprias ideias e crenças que foram desenvolvidas ao longo da vida, os pensamentos julgadores e a autocobrança que carregamos em nós desde pequenas. Fomos criadas que precisamos de um príncipe e é muito difícil abrir mão dele. Precisamos criar mulheres aprendam a ser felizes, com ou sem príncipe. Deve ser uma opção, nunca uma necessidade”, lembra Bárbara.
               E, por último, a codependência emocional, que faz com que a mulher se sinta responsável pelo bem-estar do abusador e tenha dificuldade em imaginar a vida sem ele, acreditando que não conseguirá sobreviver sozinha. “As falas manipuladoras a fazem acreditar que ela é muito difícil, que ninguém vai aguentá-la como esse homem, que ela é louca, que vai destruir a família, entre outras acusações do parceiro abusivo. Mulheres com excesso de empatia facilmente são vítimas de relações tóxicas e abusivas”, explica a psicóloga.
Estratégias para sair da relação abusiva
               Ao se identificar e decidir sair de uma relação tóxica, é importante que a mulher trace estratégias para ter segurança. O planejamento financeiro é fundamental. A mulher pode começar a economizar e guardar dinheiro secretamente, abrir uma conta bancária em seu nome e buscar formas de independência financeira, como encontrar um emprego ou cursos de capacitação. O desenvolvimento de um plano de fuga detalhado deve fazer parte dessa fase, incluindo para onde ir, quem contatar e como sair da casa de forma segura, sem alertar o abusador.
            Também se deve reunir e proteger documentos importantes, como identidade, passaporte, certidões, contratos e registros financeiros, em um lugar seguro. “ Essa mulher precisa consultar um advogado especializado em violência doméstica para entender seus direitos e as medidas legais que pode tomar, como ordens de restrição”, alerta Bárbara.
            Outra ação importante é buscar o apoio de amigos, familiares ou grupos de apoio para mulheres em situações semelhantes. Ter pessoas de confiança que possam oferecer abrigo ou ajuda prática é fundamental. “Buscar a ajuda de um psicólogo é essencial para fortalecer a autoestima e resiliência emocional, preparando-se mentalmente para a separação”, afirma a psicóloga.
Saúde emocional para enfrentar esse difícil processo
               Bárbara lembra ainda que é fundamental que a mulher busque autocuidado constante, aprenda a fazer as coisas por si em primeiro lugar, se separe primeiro mentalmente, busque apoio psicológico e mantenha-se conectada a uma rede de apoio. “Se conhecer para fortalecer a autoestima é super importante, assim como lembrar-se de que ela merece respeito, amor, companheirismo e segurança. Estar bem informada sobre o ciclo de abuso e entender que seus sentimentos são também importantes, pois ajuda a combater a manipulação emocional e quebrar o ciclo de abuso. Ver vídeos e ler conteúdos na internet pode ajudar muito nesse processo, informações nesse caso sempre salvam vidas. E claro, ter paciência consigo me sma e celebrar pequenos avanços no processo de libertação dessa dura dependência emocional”, finaliza ela.
A psicóloga Bárbara Couto
        Bárbara Couto é Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB) e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.
              Ela também tem Especializações em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurociências e  em Comportamento, ambas pela PUC-RS e em Neuropsicologia Clínica, pela Capacitar.
              Bárbara Couto escreveu dois livros, editados pela Drago Editorial, em versões impressa e e-book. O primeiro “Permita-se”, sobre relacionamentos abusivos e libertação emocional. E o segundo “Aceita-se”, sobre tabus e necessidade da autoaceitação para sobreviver em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar.
 

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