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Segundo o dicionário, a palavra ‘inovar’ significa ‘introduzir novidade em; fazer algo como não era feito antes’. E o que seria novidade no mercado de inovação brasileiro para além das tecnologias aplicadas? A descentralização dos investimentos. Para se ter uma ideia, somente 32% dos negócios de inovação tecnológica liderados por pessoas negras receberam aporte – segundo estudo realizado pela BlackRocks Startups em parceria com a consultoria Bain & Company.
Identificar e valorizar startups lideradas por pessoas negras, que pensam desde soluções de alta tecnolgia como IA e deeptechs àquelas que resolvem problemas urgentes da população negra e periférica daria acesso para investidores e fundos de investimento a um público que, de acordo com levantamento realizado pelo IBGE, faz girar cerca de R$ 1,46 trilhão na economia, número maior que os dados de consumo de toda a classe “A” brasileira.
“Nos últimos anos temos visto não apenas o surgimento mas também um crescimento de startups fundadas por pessoas negras no Brasil. cada vez mais vemos esse perfil de pessoa empreendedora usando a tecnologia para escalar soluções e resultados em mercados relevantes e, muitas vezes, de oceano azul”, explica Daiane Almeida, que é mestre em ciências, estrategista e designer de negócios que atua na criação e desenvolvimento de startups.
Outro dado alarmante é que em nosso país, cujo 55,5% da população é negra, apenas 25,1% dos empreendedores de startups são negros e pardos, segundo dados levantados na estudo ‘BlackOut – Mapa das Startups 2021’, um número que indica que se a população brasileira estivesse representada no ecossistema de inovação, o número de startups negras deveria ser, no mínimo, o dobro do registrado atualmente.
Além da iniciativa privada, a pública também tem seu papel, com a criação de políticas públicas específicas que incentivem o desenvolvimento de ecossistemas de inovação para afroempreendedores, com foco em educação empreendedora, infraestrutura de suporte e incentivos fiscais. “O mercado tem percebido que os empreendedores negros a frente de startups tem construído negócios relevantes e que é estratégico e rentável apoiá-los, tanto por meio de programas quanto por investimento”, pontua Daiane
Avanços e conquistas
Apesar desses desafios, há avanços importantes. A BlackRocks Startups, o Ginga Afrotech Hub e o Google for Startups, com o Black Founders Fund Brazil, são exemplos de iniciativas que buscam apoiar empreendedores negros. “E já temos visto resultados desses programas. A Uppo, uma startup de benefícios corporativos, conseguiu captar mais de 1 milhão em apenas 3 semanas via plataforma Eqseed. Também estamos vendo startups de pessoas negras nas listas de negócios promissores e em expansão, como é o caso da MuvRental e da Biti9”, pontua Daiane.
Áreas de destaque e oportunidades para investimento
O mapeamento da BlackRocks mostra que as startups negras estão predominantemente nos setores de educação, saúde, e finanças, com outras em crescimento no e-commerce, tecnologia e turismo. Esse cenário oferece oportunidades valiosas para investidores que buscam impacto social e retorno financeiro, especialmente em startups que atendem necessidades específicas de comunidades negras e periféricas, muitas vezes desassistidas pelo mercado tradicional.
Inspiração para novos empreendedores
A trajetória de startups de sucesso lideradas por pessoas negras reforça que o empreendedorismo negro tem um potencial imenso e histórias inspiradoras. Esses exemplos podem ser faróis para novos afroempreendedores, que encontram no ecossistema de startups um espaço de inovação e transformação, com a possibilidade de alcançar crescimento sustentável e reconhecimento.
“Um dos aspectos mais interessante é ver como esses negócios estão desenvolvendo soluções para mercados que por vezes não são rentabilizados pelas empresas que já existem no mercado, como faz o TrazFavela, um serviço de logística e delivery para as regiões periféricas de Salvador, e a Diáspora.Black, uma plataforma focada em promover a cultura negra”, exemplifica a estrategista de negócios. “Outro aspecto é o como eles conseguem construir comunidades em torno dos seus negócios, garantindo a relevância da marca e o engajamento dos clientes, coisas que são essenciais para o sucesso das empresas no mundo em que vivemos hoje”, destaca.
Essa combinação de desafios, conquistas e potenciais oferece um panorama rico para investidores e empreendedores comprometidos com a diversidade. Além disso, prova que o consumo da população negra é um território pouco pensado e explorado, mas os dados e o movimento empreendedor evidenciam que as oportunidades são muitas para aqueles dispostos a colaborar com as soluções inovadoras necessárias para o desenvolvimento econômico e social dessas áreas.
Por isso, é importante, ao pensar em liderança de inovação de forma mais ampla, fortalecer negócios oriundos ou pensados para comunidades negras, e entender as dinâmicas específicas desse mercado de consumidores e a cadeia de fornecedores para que elas gerem impacto significativo na economia nacional.