12 de fevereiro de 2025

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Novas gerações lideram a conscientização ambiental: o papel da educação e da ecologia integral como pilares para o futuro

Foto: Freepik

Com 77% dos brasileiros priorizando a proteção ambiental, workshop da ANEC reforça a urgência da ecologia integral nas escolas, alinhando educação e sustentabilidade

A crise climática é um dos tópicos mais urgentes que a humanidade enfrenta hoje. No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) aponta que 77% dos brasileiros consideram importante proteger o meio ambiente, mesmo que isso signifique menor crescimento econômico e menos empregos. Por outro lado, uma pesquisa da Tereos indica que 34% dos brasileiros desconhecem o que são mudanças climáticas. O cenário global também é alarmante: conforme divulgado pelo Serviço de Mudança Climática Copernicus, 2024 foi o ano mais quente já registrado globalmente.

Diante desse cenário, as novas gerações, especialmente a Geração Z, se destacam como as mais comprometidas com a saúde do planeta. É o que demonstra um estudo realizado pela Descarbonize Soluções, empresa especializada em soluções de energia limpa. Os dados apontam que os jovens são mais engajados, adotando um estilo de vida mais equilibrado, além da preferência por consumir marcas comprometidas com a sustentabilidade. 

Esse comportamento reflete as consequências da primeira geração nativa digital, ou seja, que nasceu com a internet. Dessa maneira, os jovens têm acesso mais facilitado a informação de qualidade, além de ter mais poder de posicionamento e influência, com figuras que pressionam governos e instituições a adotarem medidas urgentes para combater a crise climática — o que faz sentido, visto que eles são os que mais sofrerão as consequências da ebulição global.

Nesse contexto, a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) promoveu, na última terça-feira (4), um workshop sobre a Campanha da Fraternidade 2025, que tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”. A ANEC representa mais de um milhão de estudantes brasileiros, contando com algumas das principais redes de ensino entre as suas associadas, como a Rede Salesiana de Escolas, Rede Marista Brasil, as Pontifícias Universidades Católicas (PUC), entre muitas outras.

A Campanha da Fraternidade, promovida anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ganha ainda mais relevância em 2025, ano em que a COP 30 será realizada em Belém do Pará, na Amazônia. Inspirada pelo exemplo de São Francisco de Assis e na comemoração dos 10 anos da encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, a iniciativa reforça a necessidade de uma conversão ecológica e espiritual, alinhando-se ao chamado das novas gerações por um futuro sustentável.

Ecologia integral como missão educativa

O evento online reuniu educadores, teólogos e especialistas em educação para refletir sobre a importância da ecologia integral no contexto educacional e pastoral, destacando a necessidade de uma conversão ecológica e social. O workshop foi iniciado com a fala de Pe. Júlio César, formado em teologia e filosofia, além de ter mestrado em educação, ambos pela PUC Minas Gerais. Ele atuou já como formador na sua congregação, como professor e, atualmente, é assessor do setor de educação na CNBB.

“O Papa Francisco nos convida a ouvir o clamor da terra, a ouvir o clamor dos pobres que gritam — gritam porque a situação atual que a nossa humanidade passa precisa de ação urgente”, afirmou. Segundo o palestrante, a Campanha da Fraternidade é um convite à escuta e à conversão, tanto pessoal quanto comunitária. “A obra da criação de Deus está em risco, e nós, como humanidade, não estamos cuidando daquilo que nos foi confiado.”

O padre também apresentou os 11 objetivos específicos da Campanha, que incluem desde o reconhecimento das ações já realizadas, como a Laudato Si’ e o Sínodo da Amazônia, até a promoção de mudanças no modelo econômico atual, que ameaça a vida no planeta. “A ecologia integral não é apenas um tema pastoral, mas deve perpassar toda a ação evangelizadora e transformadora da realidade”, enfatizou. 

Formando cidadãos globais

Gregory Rial, mediador do evento, destacou a importância de integrar a Campanha da Fraternidade no cotidiano das escolas católicas, não apenas como uma ação isolada da pastoral, mas como um tema transversal que dialogue com todas as áreas do conhecimento. “Nosso interesse aqui, enquanto a ANEC, é que toda a escola, todas as áreas do conhecimento se interconectem, se cruzem na Campanha da Fraternidade.”

Roberta Guedes, gerente de Educação Básica da ANEC, reforçou que a Campanha da Fraternidade deve ser um background pedagógico, integrando-se ao currículo escolar. “Pensar a Campanha da Fraternidade é refletir sobre a intenção que temos com essa temática. Se for apenas cumprir calendário, resultará em um projeto com data marcada para terminar. Mas se a intenção for pedagógica, pastoral e política (…), então o tema da Campanha da Fraternidade se tornará parte integral do processo pedagógico, pois ele tem espaço-tempo, significado e intencionalidade”, destacou.

Ela também destacou a importância de formar cidadãos críticos e conscientes, capazes de enfrentar os desafios socioambientais atuais. “A educação precisa potencializar pessoas, e a Campanha da Fraternidade nos convida a pensar na ecologia integral como um caminho para a construção de uma cidadania global”, afirmou. Roberta citou o Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco, que chama todos a construir uma sociedade melhor. “Como diz o provérbio africano, é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Precisamos de pessoas com pensamento crítico, capacidade de resolver problemas, criatividade e colaboração”, disse.

Já Beatriz Leal, assessora nacional do Setor Ensino Religioso da Comissão Episcopal para a Cultura e Educação, focou sua fala no potencial pedagógico da Campanha da Fraternidade no ensino religioso. Ela apresentou subsídios práticos para trabalhar o tema nas escolas, alinhados às competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Cuidar da Casa Comum é uma urgência, e o ensino religioso tem um papel fundamental nessa missão”, disse.

Beatriz sugeriu atividades como a criação de hortas comunitárias, projetos de reciclagem e campanhas de conscientização ambiental, que podem ser desenvolvidas em parceria com outras disciplinas. “Não existe planeta reserva. Precisamos ampliar essa temática, levando-a para as famílias e para a comunidade ao redor da escola”, ressaltou. 

Ela também destacou a importância de trabalhar com as competências da BNCC, como “reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza” e “analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da cultura, da política, da economia e do meio ambiente”.

A ecologia integral na prática

O workshop também destacou a importância de ações concretas para promover a ecologia integral. Roberta Guedes e Beatriz Leal compartilharam experiências práticas, como o reuso da água do ar-condicionado para regar hortas e a transformação de materiais recicláveis em arte e brinquedos. “São pequenos gestos que fazem a diferença e mostram que podemos transformar lixo em luxo”, afirmou Beatriz.

Roberta também enfatizou a necessidade de superar a visão tecnocrática dominante e colocar a criação no centro, não a criatura. “Precisamos superar a visão de que o ser humano é o dominador da natureza. Somos guardiões da criação, e isso deve ser refletido em nossas práticas educativas”, disse. Ela citou exemplos de como pequenas ações, como a criação de uma horta comunitária na educação infantil, podem preparar os alunos para discutir temas complexos como economia solidária e sustentabilidade no ensino médio.

Com este workshop, a ANEC reforçou seu compromisso com a Campanha da Fraternidade 2025 e o chamado à ação, à conversão e à educação integral. “Precisamos abandonar a idolatria do consumismo e do materialismo e ter olhos que contemplem a beleza da obra criada por Deus”, afirmou Pe. Júlio César. 

A ANEC se comprometeu a apoiar as escolas católicas na implementação de projetos que integrem a ecologia integral ao currículo, promovendo uma educação que leve à vida e à esperança. Para mais informações sobre os subsídios e materiais da Campanha da Fraternidade 2025, os educadores podem entrar em contato com a ANEC ou acessar os recursos disponíveis no site.

Sobre a ANEC

A Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) é uma entidade sem fins lucrativos, de caráter educacional e cultural, representante da Educação Católica no Brasil, e reunida em comunhão de valores com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB).

A instituição atua em favor de uma educação de excelência para promover uma educação cristã entendida como aquela que visa à formação integral da pessoa humana, sujeito e agente de construção de uma sociedade justa, fraterna, solidária e pacífica, segundo o Evangelho e o ensinamento social da Igreja.

A ANEC atua em 900 municípios do Brasil, realiza 172 obras sociais e tem como associadas 1050 escolas, que incluem Creche, Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, e 83 instituições de Ensino Superior, que atendem a mais de 1,5 milhão de alunos, além de 353 mantenedoras.

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