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Psicopedagoga enfrentou o bullying e hoje ensina professores a alunos a lidarem com a diversidade
Desde muito cedo, Gleiciane de Oliveira Maziotti entendeu que não era igual aos outros. “Quando iniciei na escola, eu não fui bem acolhida. Sentia medo e a falta dos meus pais. Isso criou em mim um trauma. A mudança repentina, professores despreparados e todos os outros sentimentos envolvidos levaram ao desenvolvimento de uma condição chamada ‘alopécia androgenética’, que faz com que o indivíduo não tenha pelos em todo o corpo”, conta a educadora de 37 anos, nascida em Curitiba.
“Infelizmente o que acontece na escola não fica só na escola, levamos para a vida e o bullying que sofri a partir dessa doença autoimune trouxe um tipo de sofrimento que transformei em força para ser a profissional que sou hoje”, comenta. A rejeição e os comentários cruéis que ouvia dos colegas a fizeram desistir dos estudos. “Falavam que eu tinha AIDS, que eu tinha câncer. Aquilo me feriu profundamente, a ponto de eu abandonar a escola”, relembra.
Mas o que poderia ser o fim de uma trajetória acadêmica se tornou o ponto de virada na sua vida. Determinada a reescrever sua história, Gleiciane decidiu voltar a estudar na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos), ingressou em uma graduação e posteriormente se especializou com uma pós-graduação em Psicopedagogia com Ênfase em Educação Especial.
Hoje, a educadora se dedica a transformar o ambiente escolar para crianças que, assim como ela, sentem na pele o peso de serem consideradas diferentes. “Já escutei um aluno dizer: ‘Eu não queria ser diferente!’. Isso me remeteu ao período em que eu mesma pensava assim. Mas escolhi lutar pelo direito de ser diferente e aceita com normalidade”, afirma.
A importância do seu trabalho ganha ainda mais relevância diante dos dados alarmantes sobre a violência escolar. Segundo pesquisa do DataSenado, quase sete milhões de estudantes já sofreram algum tipo de violência dentro da escola. Para Gleiciane, isso reforça a necessidade de preparar educadores e familiares para lidar com a diversidade. “Sair do padrão considerado ‘normal’ assusta. As escolas recebem crianças neurodivergentes, obesas, com problemas de pele, estatura, deficiências. E é preciso que pais e professores saibam acolher e incluir”, ressalta a educadora.
Com especialização em estratégias para educação inclusiva, desenvolvimento infantil e liderança em ambientes educacionais, Gleiciane tem levado seu conhecimento para além das salas de aula. Nos últimos cinco anos, esteve nos Estados Unidos se aperfeiçoando e compartilhando suas técnicas com educadores. Entre as ações mais impactantes, ela foi percussora em tornar a cidade de Monte Alto, interior de São Paulo, uma cidade referência no trato com alunos especiais, ajudando a aplicar novas abordagens na rede educacional local e promovendo atualizações anuais da técnica.
“Esses anos fora do país, me dediquei a aprender e aprimorar meus métodos. Hoje, meu objetivo é garantir que outras crianças não precisem passar pelo que passei. Pais, alunos e professores têm que ser conscientizados, ainda mais no mundo de hoje, onde a pluralidade está em alta. Quero que elas tenham um ambiente escolar mais acolhedor e professores mais preparados”, enfatiza Gleiciane.
De vítima de bullying a referência na educação inclusiva, sua trajetória prova que é possível transformar dor em propósito. Para quem um dia duvidou de si, ela deixa um recado: “O diferente assusta, mas também ensina. E eu escolhi ensinar”.
Sobre
Gleiciane de Oliveira Maziotti é pedagoga, psicopedagoga e especialista em educação inclusiva. Com graduação em Pedagogia e pós-graduação em Psicopedagogia com Ênfase em Educação Especial, atualmente cursa Mestrado em Educação Cristã na Northpoint University, nos EUA. Nos últimos cinco anos, tem se dedicado ao aperfeiçoamento de metodologias educacionais, contribuindo para a implementação de estratégias inclusivas na rede pública de ensino de Monte Alto (SP). Apaixonada pelo aprendizado, a educadora é referência no desenvolvimento de práticas pedagógicas voltadas para a inclusão e o respeito às diferenças.