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Estrategista Educacional revela quais são esses mitos mais comuns e porque acreditamos tanto neles
Muitas vezes, educadores e responsáveis associam as dificuldades e diferenças entre alunos a mitos amplamente difundidos na área da educação. Como resultado, esses profissionais continuam acreditando nessas falsas verdades e acabam não conseguindo ajudar seus alunos a progredirem em seu aprendizado.
A estrategista educacional Aline Von Bahten explica mais sobre esses mitos, destacando os mais comuns entre os profissionais da educação e como evitá-los. “Um exemplo clássico de mito difundido é dizer que a palavra aluno não deve mais ser usada e substituída por estudante. Como se “ser aluno” fosse ruim e “ser estudante” bom. O mito é dizer que a palavra ‘aluno’ significa ‘sem luz’. No entanto, ‘aluno’ vem do latim alumnus, que significa ‘discípulo’, ‘pupilo’, ‘criança de peito’ ou ‘afilhado’. Assim, a educação tem o papel de alimentar essa pessoa com saberes, aprendizagens e valores. Ou seja, não há nada de errado com a palava aluno”, esclarece Aline.
Este é um dos exemplos em que um mito acaba chegando a muitas pessoas e se tornando verdade. “A pirâmide de aprendizagem, atribuída à Universidade do Maine, afirmaria que retemos a aprendizagem de 10% do que lemos, 20% do que lemos e ouvimos e segue progressivamente até 90-95% que seria alcançada quando ensinamos outras pessoas. No entanto, esse estudo não aconteceu dessa forma e nem os dados são reais. Quando comento em palestras, eu digo que a gente às vezes aceita fácil o que nos apresentam. Se analisássemos com um olhar pesquisador científico, seria muito estranho que os números seriam tão exatos e progressivos para cada prática em uma pesquisa”, explica a estrategista educacional.
A disseminação de mitos acontece por causa do viés que temos frente às informações. “Tendemos a acreditar nas informações que chegam até nós. O mito da pirâmide de aprendizagem, por exemplo, aparece em livros e já vi professor de Harvard apresentando aula com a imagem da pirâmide em slides. E por que isso acontece? Existem vários vieses que explicam essa propagação. Um deles é o Talent Bias (viés da notoriedade), que nos leva a acreditar em algo quando alguém renomado na área o afirma. Muitas vezes, as pessoas não buscam fontes confiáveis, e essas informações acabam sendo tomadas como verdade”, comenta a educadora. “Outro viés que provoca isso é o Dunning-Krueger em que a gente acredita em algo pelo pouco conhecimento que temos de um assunto. Como assim? Você escuta e aquilo parece fazer sentido para você e você aceita, como no caso de dizer que alguém aprende mais de forma visual e por isso deve receber mais conteúdos de forma visual e não auditiva. Parece que faz sentido, pois eu acho que aprendo mais lendo, então aceitamos.”
Entre os mitos mais comuns, a ideia dos estilos de aprendizagem (visual, auditiva ou cinestésica) é uma das que mais impactam as práticas pedagógicas diárias. Devido à sua ampla disseminação, essa crença se tornou quase uma verdade entre leigos no assunto. E isso confunde tanto professores quanto alunos na tentativa de aprimorar o ensino e a aprendizagem. “Não é verdade que se eu der mais estímulos visuais para alguém que seria visual ela aprenderia mais. Pelo contrário, é justamente ajudando os estudantes a se desenvolverem em todos os estímulos que eles aprendem de forma mais significativa.” explica a estrategista. Ela também comenta que isso impacta tanto no educador como no aluno ou no responsável pelo aluno. “Outra coisa que as pesquisas mostraram é que a percepção de habilidade não é igual à habilidade real. Ou seja, não é porque alguém acha que o estímulo auditivo é mais importante para ela que isso seria real.” completa.
Há também a crença de que usamos apenas 10% do nosso cérebro, outra lenda urbana amplamente repetida (e reforçada por filmes como Lucy de 2014). Exames de neuroimagem funcional mostram que utilizamos diversas áreas do cérebro simultaneamente. Além disso, a ideia de que as funções cerebrais estariam completamente separadas entre os hemisférios direito e esquerdo, ou que teríamos um hemisfério dominante de acordo com o nosso comportamento também são mitos. Os hemisférios são interligados e em exames foi possível descobrir que eles podem ser usados com variações por diferentes pessoas.
Diante da propagação dessas falsas crenças, educadores têm buscado maneiras de inovar e se afastar dessas distorções sobre ensino e aprendizagem. “O que me motivou a buscar formações na área educacional foi ouvir atentamente o feedback dos alunos e analisar os resultados reais que obtinham na vida. Não adianta alguém dizer que sua aula é boa ou didática se os alunos não conseguirem aplicar o conteúdo na prática e obter resultados concretos. Por isso, ouvir e aprender a avaliar o aluno corretamente é fundamental. Em um cenário onde concursos exigem provas de múltipla escolha, muitos replicam esse modelo como avaliação principal. Porém, na vida real, as situações não vêm acompanhadas de alternativas A, B, C ou D para escolhermos”, conclui Aline.