Rodrigo Castro, membro do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura / Crédito: Divulgação Coalizão Brasil
Reunião que será realizada a partir de 16 de junho, na Alemanha, terá o papel de ampliar recursos para o financiamento climático e fortalecer negociações para a agenda de adaptação
A sessão da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que acontece todos os anos em Bonn, na Alemanha, terá um papel decisivo para os avanços da agenda climática que serão discutidas na COP 30, em Belém (PA). O evento, que ocorrerá entre os dias 16 e 26 de junho, discutirá temas como financiamento climático, transição energética e adaptação às mudanças climáticas, que movimentam bilhões de dólares e provocam divisões entre grupos de países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Em um momento em que o aumento médio da temperatura global chegou a 1,5°C, limite definido pelo Acordo de Paris em 2015, a COP 30 terá como principal objetivo incentivar os países a executarem suas novas metas para redução da emissão de gases de efeito estufa, as NDCs – estes compromissos devem ser apresentados à ONU até setembro. No ritmo atual, a temperatura média do planeta pode subir até 2,5°C até 2050, segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial.
Para Rodrigo Castro, membro do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, a reunião preparatória de Bonn precisará assumir um tom de urgência para que os países assumam NDCs ambiciosas. “Diante da nova realidade climática que estamos vivenciando, é preciso adotar um tom mais urgente em Bonn. Nós precisamos que os países respondam com uma maior ambição nas suas NDCs e também mais proatividade na implementação de medidas de mitigação e adaptação climática”, ressalta.
Para isso, o tema da adaptação — conceito que reúne iniciativas para tornar a vida no planeta mais resiliente aos eventos extremos, provocados pelos efeitos da crise climática — deverá receber mais atenção. Mas, segundo Castro, um dos grandes desafios da agenda é dar forma concreta às ações, para que sejam mensuráveis e monitoradas de maneira efetiva. Outra dificuldade é a complexidade dessas ações, pois o impacto da crise climática varia muito entre regiões, o que naturalmente muda também as tomadas de decisão para cada contexto. “A justiça climática é fundamental para garantir que as principais nações afetadas pela crise climática possam ser compensadas. Os países mais pobres sofrem as maiores consequências negativas dessa instabilidade e dessa mudança do clima”, completa Castro, que também é Diretor de País da Fundação Solidaridad.
O presidente da COP 30, André Corrêa do Lago, ressaltou, em uma carta divulgada em maio, que as ações de adaptação serão tema central na reunião de Bonn, reforçando que esta é a “face visível da resposta global à mudança do clima e um pilar essencial para alinhar a ação climática ao desenvolvimento sustentável.” Corrêa também cobrou que os países resgatem o multilateralismo e mudem o tom das negociações internacionais durante o evento em junho.
Déficit trilionário
Outro tema que deverá orbitar as negociações em Bonn é o financiamento climático, que se tornou um assunto sensível diante do histórico das últimas conferências, marcadas pela recusa dos países desenvolvidos em se responsabilizar financeiramente pelas demandas das nações em desenvolvimento.
O que será discutido em Bonn terá impacto direto na COP no Brasil, que recebeu da edição anterior da conferência, realizada em Baku (Azerbaijão), a missão de destravar o financiamento climático. Para novembro, a Conferência do Clima precisará elaborar um plano para que os países mobilizem US$1,3 trilhão anuais em recursos para enfrentamento das mudanças climáticas.
“As negociações em Bonn precisam ter um tom mais pragmático e avançar, de forma concreta e transparente, na questão do financiamento climático para os países em desenvolvimento. Além disso, é muito importante trazer, também, o tema da justiça climática de forma mais proativa para o debate. O desfecho desse encontro será decisivo na construção de caminhos justos e eficientes para a COP 30 e além”, afirma Castro.
Sobre a Coalizão
A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura é um movimento composto por mais de 400 organizações, entre entidades do agronegócio, empresas, organizações da sociedade civil, setor financeiro e academia. A rede atua por meio de debates, análises de políticas públicas, articulação entre diferentes setores e promoção de iniciativas que contribuam para a conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.