Floresta Amazônica é um ecossistema notavelmente diverso, abrigando mais de 10% de todas as espécies vegetais e vertebradas conhecidas. Foto: Cecilia Bastos / USP Imagens
Apesar de redução significativa entre 2005 e 2012, a taxa média anual de desmatamento foi de 11.152 quilômetros em 36 anos na região amazônica, aponta estudo publicado na Forest Ecology and Management por pesquisadores brasileiros do IAG, IFUSP, EPUSP, Unicamp, INPE e IPAM
Um estudo sobre desmatamento na Amazônia apresenta recorte temporal e abrangência de área territorial inédita sobre o impacto na região a partir das métricas de compacidade (como as áreas desmatadas se apresentam geograficamente) e raios equivalentes (manchas desmatadas, ou seja, áreas que foram removidas ou degradadas ao longo do tempo). O trabalho, publicado online em abril e previsto para o volume 586 de 15 de junho de 2025 na revista científica Forest Ecology and Management, evidencia o preocupante cenário de falhas na preservação de toda a Amazônia Legal.
Entre 1985 e 2021 as taxas de desmatamento atingiram níveis alarmantes de até 25.000 quilômetros quadrados por ano. A taxa média anual de desmatamento nas mais de três décadas de análise foi de 11.152 quilômetros. Com exceção de 2005 a 2012, as taxas não mostraram sinais de redução. A redução do desmatamento em 2005 pode ser amplamente atribuída a iniciativas governamentais como o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal. Nesse período de 2005 a 2012, o Brasil reduziu as taxas de desmatamento na floresta amazônica em 84% quando comparado ao pico de 2004. No entanto, desde 2013, as taxas de desmatamento vêm aumentando. Por exemplo, em 2019, 10.129 km² da floresta foram desmatados, um aumento de 34% em relação ao ano anterior. Essa alta taxa de desmatamento compromete as metas de redução de gases de efeito estufa e está associada ao aumento das emissões de queima de biomassa, impactando negativamente a saúde respiratória e as comunidades vulneráveis.
Para chegar a esses números, um grande volume de dados foi analisado, abrangendo 36 anos de dados de uso e cobertura do solo e 3 milhões de quilômetros quadrados. A pastagem foi o tipo de uso da terra mais frequente nas manchas de desmatamento, representando aproximadamente 83% da área desmatada, seguida pela agricultura e silvicultura, juntas respondendo por 17%. O estudo é de autoria de pesquisadores da Universidade de São Paulo ligados ao Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), Instituto de Física (IFUSP) e Escola Politécnica (EPUSP); Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Diferentemente da maioria dos trabalhos anteriores sobre desmatamento na floresta amazônica, que investigaram pequenas áreas ou períodos limitados, este trabalho abrange 36 anos e toda a área da Amazônia Legal.
“Com as métricas que utilizamos, como o compactness e o raio equivalente, observamos quatro regiões distintas dentro da Amazônia, cada uma com sua característica única e consistente com as diferentes evoluções temporais. Essas descobertas ressaltam a utilidade de métricas geométricas relativamente simples para entender a evolução espacial e temporal do desmatamento, oferecendo insights valiosos sobre a estimativa da dinâmica do uso da terra na Amazônia e que isso pode ser uma base para estratégias de monitoramento e conservação mais eficazes”, explica Marco Aurélio de Menezes Franco, Professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG-USP e um dos autores do estudo.
Os pesquisadores realizaram a análise de dados de uso e cobertura do solo, caracterizaram as áreas desmatadas, agregaram clusters geográficos e apontaram distribuições de probabilidade e evolução. Esta metodologia se dividiu em uma análise de padrão espacial na qual se identificou áreas contíguas de desmatamento (manchas) com base nos mapas de uso do solo do projeto MapBiomas. Em segundo lugar, as características geométricas das manchas de desmatamento foram caracterizadas. Na sequência, foi aplicada a análise de agrupamento para identificar regiões com padrões de desmatamento semelhantes em suas características geométricas.
A floresta amazônica, embora ocupe apenas 0,5% da superfície terrestre, é um ecossistema notavelmente diverso, abrigando mais de 10% de todas as espécies vegetais e vertebradas conhecidas. A floresta tropical, por exemplo, regula criticamente o clima global e os ciclos da água e do carbono, contribuindo para cerca de 16% de toda a produtividade fotossintética terrestre. No entanto, atividades humanas como agricultura e pecuária resultaram em uma mudança significativa no uso da terra, afetando os ciclos biogeoquímicos e os serviços ecossistêmicos relacionados à regulação climática, biodiversidade e armazenamento de carbono. Estudos recentes sugerem que a mudança no uso da terra, a degradação florestal e as mudanças climáticas transformaram áreas florestais de sumidouros de carbono em fontes de carbono para a atmosfera, especialmente no sudeste da Amazônia.
Este projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), além de apoiado pelo Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), Shell Brasil e Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP).
Artigo científico
Márcio J. Teixeira, Luiz A.T. Machado, Paulo Artaxo, Alan Calheiros, Pedro Corrêa, Marco A. Franco, Julia Shimbo, Luciana V. Rizzo. Analyzing and forecasting the morphology of Amazon deforestation. Forest Ecology and Management, Volume 586, 2025. Disponível online em https://doi.org/10.1016/j.foreco.2025.122662
Sobre o IAG/USP
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