18 de abril de 2025

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Artigo| A luta pelo sustentável é, antes de tudo, uma luta por justiça social

Foto: Freepik

Por Karla Suarez, cofundadora da ColetivA DELAS, especialista em DEI e economia criativa

Enquanto a emergência climática avança, ela desnuda uma realidade incômoda: os impactos ambientais não são distribuídos de forma equitativa. Comunidades negras, indígenas, periféricas e LGBTQIA+ estão na linha de frente dessas catástrofes, enfrentando riscos desproporcionais e injustiças estruturais que aprofundam desigualdades históricas. Este cenário é um reflexo direto do racismo ambiental – um fenômeno em que populações marginalizadas sofrem mais intensamente com os efeitos das mudanças climáticas devido a condições sociais e geográficas impostas pelo sistema.

No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 38% da população negra vive em áreas de alta exposição a desastres naturais, enquanto apenas 25% da população branca enfrenta essa mesma situação. A disparidade é agravada pela falta de infraestrutura, pela negligência em políticas públicas e pela vulnerabilidade econômica dessas comunidades, que frequentemente habitam regiões sujeitas a enchentes, deslizamentos e altos níveis de poluição.

O impacto já é visível: secas severas, falta de água potável e insegurança alimentar afetam de forma desproporcional essas populações. Além disso, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta que, especialmente no Sul Global, os grupos mais vulneráveis enfrentam riscos crescentes de insegurança hídrica e alimentar devido ao aumento das temperaturas e às mudanças nos padrões de chuva.

Enfrentar a emergência climática requer uma abordagem que transcenda as soluções convencionais e valorize a diversidade como um pilar estratégico. Não é apenas uma crise ambiental; é também uma crise de desigualdade que, em todo caso de resposta, exige alternativas inclusivas e equitativas.

Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) ainda destacam que iniciativas lideradas por mulheres, pessoas LGBTQIA+ e comunidades indígenas têm o potencial de criar soluções criativas e efetivas para problemas socioambientais. Desta forma, essas populações se tornam, além de vítimas, protagonistas na construção de estratégias de mitigação e adaptação, trazendo abordagens inovadoras e mais alinhadas com as necessidades reais das comunidades afetadas. O fato de grande parte do mercado e dos órgãos não se atentarem a isso é mais um indicativo de que há algo errado. 

Nesse contexto, a cultura surge como um catalisador essencial para mitigar esses impactos, amplificar vozes marginalizadas e promover o diálogo entre diversidade e sustentabilidade. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) já reconheceu a cultura como um dos quatro pilares do desenvolvimento sustentável, destacando um poder transformador para mobilizar a sociedade. No Brasil, iniciativas como o Festival Corpos Visíveis exemplificam como a arte pode atuar como uma ferramenta poderosa para discutir ancestralidade, justiça social e crise ambiental. 

Os desafios da emergência climática demandam uma mudança que só será materializada se for construída coletivamente. Promover justiça ambiental também inclui ouvir e incluir as vozes das comunidades mais vulneráveis, enquanto se utilizam ferramentas como a arte e a cultura para mobilizar os grupos em torno de soluções que sejam, ao mesmo tempo, inovadoras e inclusivas. A sobrevivência do planeta depende de um compromisso com a equidade, reconhecendo que a luta pelo sustentável é, antes de tudo, uma luta por justiça social.

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