21 de novembro de 2024

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Artigo – Mobilidade Social como instrumento para a erradicação da pobreza

Por Vitor Hugo Neia, diretor-geral da Fundação Grupo Volkswagen e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo

No Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (17/10), somos lembrados deste desafio que persiste ao longo do tempo e ainda assola milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Embora avanços tenham sido feitos ― como a redução da extrema pobreza no Brasil, que passou de 5,8% em 2021 para 3,5% em 2022, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em abril deste ano ― ainda enfrentamos um abismo profundo entre as oportunidades oferecidas a diferentes segmentos da população.  

No Brasil, a desigualdade social está profundamente enraizada e, muitas vezes, perpetua-se por gerações. Estudos recentes mostram que são necessárias, em média, nove gerações para que os mais pobres alcancem a classe média no país. Esse dado revela uma realidade preocupante: para milhões de brasileiros, a pobreza não é apenas uma fase, mas um legado. Neste contexto, é fundamental adotar ações concretas que promovam a mobilidade social como estratégia central para a erradicação da pobreza, garantindo que as gerações futuras não apenas sobrevivam, mas prosperem.  

Promover mobilidade social significa criar condições para que indivíduos e famílias possam ascender economicamente, rompendo o ciclo de pobreza que frequentemente é transmitido de uma geração para outra. Isso envolve não apenas políticas de redistribuição de renda, mas ações concretas que ofereçam oportunidades reais de inclusão produtiva, educação de qualidade, saneamento básico e acesso ao mercado de trabalho formal.  

Um dos caminhos mais promissores para promover a mobilidade social ― e que a Fundação Grupo Volkswagen tem como estratégia de atuação ― é a inclusão produtiva. Essa abordagem busca formar pessoas para o mercado de trabalho, oferecendo condições dignas de emprego e incentivando o empreendedorismo. O processo começa com a elaboração de um plano de vida, segue com a qualificação profissional e culmina na inserção no mercado de trabalho formal. Além disso, o suporte contínuo é essencial, seja por meio de bolsas de estudo, acesso a microcrédito ou outras formas de apoio que reduzam as barreiras ao aprendizado e à inclusão efetiva. 

A educação se apresenta como um dos pilares centrais para a promoção da mobilidade social. Segundo levantamento feito por Marcelo Neri, diretor da Fundação Getúlio Vargas Social e ex-ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, com base em dados do IBGE, o filho de alguém com diploma de ensino superior tem 78% de chances de também chegar ao ensino superior, enquanto o filho de uma pessoa com apenas três anos de escolaridade tem apenas 15% de chance. No entanto, a educação, por si só, não é suficiente. O mercado de trabalho precisa absorver esses indivíduos qualificados, criando oportunidades reais de ascensão. Sem emprego digno, a mobilidade social fica limitada, perpetuando a pobreza. 

Outro aspecto essencial é o incentivo ao empreendedorismo, especialmente nas comunidades vulneráveis. Pequenos negócios têm o potencial de transformar realidades locais, gerando emprego e renda. Mas, para isso, esses empreendedores precisam de apoio para formalizar suas atividades e crescer de maneira sustentável. Isso inclui desde a qualificação empreendedora até o acesso a formas não tradicionais de financiamento como doação filantrópica, via capital semente ou microcrédito. 

Além disso, as políticas públicas devem ser desenhadas para combater as desigualdades raciais e de gênero que afetam a mobilidade social. Grupos como negros e indígenas enfrentam barreiras adicionais que limitam suas oportunidades de ascensão. Ainda com base em dados do IBGE, a mobilidade social entre negros no Brasil é 5% menor em comparação aos brancos, enquanto mulheres têm 12% menos chances de mobilidade social em relação aos homens. Ações afirmativas, combinadas com a criação de ambientes inclusivos e a promoção da diversidade, são cruciais para superar essas barreiras. 

O impacto das mudanças climáticas também não pode ser ignorado nessa discussão. Segundo estudo recente publicado na Nature, as previsões indicam que, nos próximos 26 anos, a renda global pode ser reduzida em até 19% devido aos efeitos da crise climática. Esse cenário afeta desproporcionalmente as populações mais pobres, que já sofrem com a falta de infraestrutura adequada e oportunidades econômicas. O custo da inércia frente à mudança climática pode chegar a US$ 38 trilhões até 2050, superando os US$ 6 trilhões necessários para cumprir o Acordo Climático de Paris. A mobilidade social, portanto, também deve ser abordada em um contexto de justiça climática, garantindo que as populações mais vulneráveis tenham resiliência para enfrentar os desafios ambientais e econômicos do futuro. 

Para promover a mobilidade social de forma efetiva, é necessária uma ação coordenada de governos, setor privado e sociedade civil. Iniciativas como o Bolsa Família, por exemplo, que redistribuem renda e proporcionam segurança econômica a milhões de famílias, são fundamentais para oferecer condições mínimas de sobrevivência às famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. No entanto, é essencial que essas ações sejam complementadas por investimentos em assistência social, educação básica e profissional, saúde, saneamento e infraestrutura básica, permitindo que as pessoas possam crescer e prosperar. 

Neste Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, devemos reafirmar nosso compromisso com a criação de uma sociedade mais justa e equitativa. A mobilidade social não é apenas um objetivo social; é uma ferramenta poderosa para transformar a vida de milhões de pessoas e construir um Brasil mais inclusivo, sustentável e próspero para todos. 

Sobre a Fundação Grupo Volkswagen

Desde 1979, a Fundação Grupo Volkswagen realiza e apoia ações sociais e educacionais com recursos de um fundo constituído pela Volkswagen. Ao longo destes 45 anos, mais de 3 milhões de brasileiras e brasileiros foram beneficiados pelo trabalho da Fundação, que tem como missão estimular a mobilidade social por meio do investimento em iniciativas e organizações que desenvolvem comunidades e fortalecem o protagonismo dos cidadãos. A Fundação atua para incentivar a prosperidade socioeconômica e o desenvolvimento de indivíduos e comunidades, fortalecendo suas potencialidades e colaborando para o acesso equitativo a direitos e oportunidades. Para isso, prioriza os territórios mais vulneráveis nos municípios com unidades de negócio do Grupo Volkswagen no País. Além disso, apoia tecnicamente ações de responsabilidade social de empresas do Grupo Volkswagen no Brasil. Desta forma, a Fundação espera contribuir para reduzir a pobreza e diminuir as acentuadas desigualdades sociais brasileiras, por meio da inclusão produtiva e de estratégias complementares de fortalecimento das capacidades locais e assistência social. Para saber mais, acesse o site da instituição.

Crédito da foto: Fundação Grupo Volkswagen

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