Sheila Fachin Ruiz é supervisora do Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão (NAPI) do Centro Universitário Una. Foto: Acervo pessoal.
A população com deficiência no Brasil chega a quase 24%, de acordo com o Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010. Nesse contexto, muito se tem discutido sobre os direitos da pessoa com deficiência e, mesmo que muito lentamente, a legislação vem obtendo progresso para atender a essa parcela significativa da população brasileira no decorrer dos anos.
Com tais avanços, os debates sobre os diferentes tipos de acessibilidade e quais benefícios eles trazem para a criação de ambientes mais inclusivos também têm ganhado destaque. Entre a acessibilidade arquitetônica, instrumental, programática, metodológica e outras, há um tipo de acessibilidade que é difícil de ser medida, embora seja a mais simples de ser colocada em prática: a atitudinal.
A acessibilidade atitudinal está relacionada às atitudes e aos comportamentos de uma ou mais pessoas visando garantir a participação das pessoas com deficiência em um ambiente respeitoso e acolhedor. Entre as práticas que promovem a acessibilidade atitudinal no dia-a-dia, está, essencialmente, o uso adequado do termo para se referir a essa população.
O termo “pessoa com deficiência” foi adotado como oficial pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2006, mas, 17 anos depois, ainda é comum encontrar muitos termos utilizados incorretamente, como “deficiente”, “pessoa com necessidades especiais” e “portador de deficiência”. É importante salientar que, ao adotar o termo “pessoa com deficiência”, estamos promovendo a inclusão e combatendo o estigma e a discriminação que historicamente acompanharam essa parcela da população.
Mas, por que os outros são considerados inadequados? O uso do termo “deficiente” carrega uma conotação pejorativa, colocando a pessoa em uma posição de inferioridade e limitação. O termo “pessoa com necessidades especiais” também, pois, se o ambiente for acessível, nenhuma necessidade será especial. E o termo “portador de deficiência” é inadequado porque as deficiências não são objetos que alguém carrega, mas sim características que fazem parte da identidade de cada indivíduo.
É de suma importância ressaltar que a linguagem é cíclica e mutável, sofrendo transformações ao longo do tempo. Termos que eram considerados corretos em determinado período podem se tornar obsoletos à medida que a linguagem se desenvolve e novos conceitos e valores surgem. Portanto, a mudança na nomenclatura não se trata apenas de uma questão de “politicamente correto”, mas de uma transformação social necessária.
A adoção da expressão “pessoa com deficiência” tem como objetivo principal ressaltar a importância de reconhecer a pessoa antes da sua condição. Ao utilizar essa terminologia, destaca-se a individualidade, a autonomia e a dignidade de cada indivíduo, valorizando suas habilidades e potencialidades. E, apesar dos avanços já conquistados, ainda há muito a ser feito, sendo necessário que a sociedade como um todo se engaje e adote uma linguagem inclusiva em todos os âmbitos.
Sobre a autora: Sheila Fachin Ruiz é graduada em Pedagogia pela Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES), com especialização em Atendimento Educacional Especializado pela Anhanguera Educacional. Atualmente, trabalha como supervisora do Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão (NAPI) do Centro Universitário Una – que integra o Ecossistema Ânima – no Triângulo Mineiro e Goiás.