A astrofísica brasileira Beatriz Barbuy, professora do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) / Crédito: Micheline Pelletier / Fondation L’Oréal
Após 13 anos de observação das regiões centrais da Galáxia pelos VISTA Variables in the Via Láctea (VVV) e seu projeto complementar VVV eXtended (VVVX), 146 coautores de 15 países, incluindo a astrofísica brasileira Professora Beatriz Barbuy, do IAG-USP, foi finalizado o maior mapa infravermelho da Via Láctea – com publicação no Astronomy & Astrophysic, deixando um legado inestimável para a comunidade astronômica
“A Via Láctea nada mais é do que uma massa de inúmeras estrelas.” Foi isso o que disse Galileu Galilei ao observar nossa Galáxia pela primeira vez com o uso de um telescópio. Quatrocentos anos depois, o maior mapa infravermelho da Via Láctea foi finalizado, após mais de 13 anos de observação das regiões centrais da nossa Galáxia pelos projetos VISTA Variables in the Via Láctea (VVV) e seu projeto complementar VVV eXtended (VVVX).
Esse esforço coletivo, que deixa um legado inestimável para a comunidade astronômica, foi publicado na prestigiosa revista europeia Astronomy & Astrophysics, com a liderança dos professores Roberto K. Saito, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Florianópolis e Maren Hempel, da Universidad Andres Bello (UNAB), no Chile. O artigo lista inúmeras descobertas após muitos anos de análise dos dados e foi preparado por 146 coautores de 15 países diferentes, de quatro continentes. O VVV e o VVVX foram dirigidos pelo Prof. Dante Minniti da UNAB, e pelo Prof. Philip Lucas, da Universidade de Hertfordshire (UH), no Reino Unido.
A astrofísica brasileira Beatriz Barbuy, professora do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) participou desses megaprojetos, que tiveram diferentes etapas, executadas desde 2005, incluindo o planejamento, execução das observações, análise dos dados e obtenção de resultados. Este último passo inclui a exploração e as publicações.
De acordo com os autores, no início foi uma aventura embarcar neste grande experimento, por ser uma tarefa gigantesca, sendo então o maior projeto observacional em termos de volume de dados do Observatório Europeu Austral (ESO), responsável pela condução das observações com o telescópio VISTA, no Observatório Cerro Paranal, no norte do Chile. As observações foram iniciadas em 2010 e foram finalizadas no primeiro semestre de 2023, em um total de 420 noites, nas quais foram obtidas cerca de 200 mil imagens, monitorando mais de 1,5 bilhão de objetos, e gerando cerca de 500 TB de dados científicos.
O artigo traz muitas aplicações para a comunidade astronômica interessada em estudos de estrutura Galáctica, populações estelares, estrelas variáveis, cúmulos estelares, entre outras. As descobertas incluem:
– aglomerados globulares, os objetos mais antigos de nossa Galáxia,
– estrelas hipervelozes, onde o buraco negro supermassivo central da Galáxia expulsa estas estrelas,
– janelas de baixa extinção, que permitem uma visão do lado mais distante da Galáxia através de todo o pó e gás;
– estrelas variáveis RR Lyrae no centro da Galáxia, a população mais velha conhecida;
– estrelas anãs marrons e planetas flutuantes binários, os objetos menos luminosos conhecidos que não estão associados a nenhuma estrela;
– objetos variáveis desconhecidos, chamados de WITs, acrônimo para “What Is This?” (O que é isto?);
– milhares de galáxias atrás do disco da Via Láctea;
– objetos estelares recém-nascidos, que são violentamente variáveis;
– eventos de microlentes gravitacionais no coração da Via Láctea;
– estrelas variáveis Cefeidas muito distantes, incluindo nos antípodas de nossa Galáxia.
Essas descobertas geraram mais de 300 publicações científicas, além de 30 teses de doutorado na América do Sul e Europa. O processamento das imagens, análise de dados e exploração científica continuará por muitos anos, com inúmeras descobertas por vir. A pesquisa, vislumbram os autores, ajudará os projetos futuros em formas hoje inimagináveis e temos certeza de que continuará com um legado importante nos próximos anos. Muitos desses estudos só poderão ser superados no futuro com o Telescópio Espacial Nancy Roman da NASA, que será lançado no final do ano de 2026.
Sobre o IAG/USP
O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo é um dos principais polos de pesquisa do Brasil nas áreas de Ciências Exatas e da Terra. A missão é contribuir para o desenvolvimento do país, promovendo o ensino, a pesquisa e a difusão de conhecimentos sobre as ciências da Terra e do Universo e aspirando reconhecimento e liderança pela qualidade dos profissionais formados e pelo impacto da atuação científica e acadêmica. Na graduação, o IAG recebe em seus três cursos 80 novos alunos todos os anos. Já são mais de 700 profissionais formados pelo IAG, entre geofísicos, meteorologistas e astrônomos. Os quatro programas de pós-graduação do IAG já formaram mais de 870 mestres e 450 doutores desde a década de 1970. O corpo docente também tem posição de destaque em grandes colaborações científicas nacionais e internacionais.