05 de junho de 2025

Cobertura vacinal contra Influenza despenca para 31% e acende alerta para avanço de vírus respiratórios no país

Foto: Freepik

Infectologista aponta falha grave na adesão à imunização e aumento expressivo de hospitalizações entre crianças e idosos em todo o Brasil

A cobertura vacinal contra a gripe no Brasil atingiu um dos patamares mais baixos dos últimos anos, com apenas 31,93% do público prioritário imunizado até 26 de maio, segundo dados do Ministério da Saúde. O cenário preocupa infectologistas, diante do avanço das internações por vírus respiratórios, especialmente Influenza A e Vírus Sincicial Respiratório (VSR), em crianças e idosos — os grupos mais vulneráveis.
 

De acordo com o boletim InfoGripe da Fiocruz, referente à semana epidemiológica 20, o crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foi identificado em 20 das 27 unidades federativas. A Influenza A já responde por quase 70% dos óbitos confirmados por SRAG nas últimas quatro semanas, enquanto o VSR segue afetando de forma agressiva o público infantil.
 

Para o médico infectologista Dr. Klinger Soares Faíco Filho, professor adjunto da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, apresentador do InfectoCast a baixa cobertura vacinal reflete uma falha sistêmica. “A população não está deixando de se vacinar por falta de acesso. O que estamos vendo é uma erosão silenciosa da cultura vacinal, agravada por campanhas fracas, ausência de busca ativa e desinformação”, afirma.
 

A percepção equivocada de que a gripe é uma doença leve ou inevitável, segundo o especialista, também contribui para o descaso com a imunização. “É uma doença imunoprevenível com impacto direto na mortalidade hospitalar. Precisamos reforçar isso com clareza. Sete em cada dez pessoas prioritárias estão sem proteção — isso é inaceitável”, alerta Dr. Klinger.
 

O impacto já é evidente no sistema de saúde. Além do aumento das internações, houve elevação na ocupação de leitos pediátricos de enfermaria e UTI em estados como Rio Grande do Sul, Amazonas, Pernambuco e Bahia. “Estamos observando uma alta carga pediátrica, justamente entre os grupos que poderiam estar protegidos com uma vacina gratuita e segura”, destaca o infectologista.
 

Outro ponto crítico apontado por especialistas é a dependência de estratégias reativas de vacinação. “Vacinar depois que o surto começa é apagar incêndio com copo d’água. A vacina da gripe leva cerca de duas semanas para gerar resposta imune. Se a cobertura está baixa agora, o impacto em hospitalizações já é praticamente inevitável”, explica o médico.
 

A Fiocruz também destaca a persistência da COVID-19 como segunda causa de morte por SRAG entre idosos, mesmo com número absoluto de casos em baixa, representando 8,1% dos óbitos recentes. Isso reforça a importância da integração entre vigilância epidemiológica e ações preventivas coordenadas com a atenção básica.
 

Entre as medidas recomendadas estão a reformulação das campanhas de comunicação com foco em risco, ampliação dos horários de vacinação, uso mais eficiente dos dados de vigilância e busca ativa por não vacinados nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Estratégia de Saúde da Família (ESF). “Não é só mais uma gripe. É uma epidemia previsível alimentada pela inércia”, resume Dr. Klinger.
 

A gripe, vale lembrar, é especialmente perigosa para idosos, crianças pequenas e pessoas com comorbidades. Estudos já demonstraram aumento de até 10 vezes no risco de infarto e AVC nos dias que sucedem a infecção. “Estamos pagando com internações e óbitos o preço da negligência vacinal. É preciso voltar a tratar a vacinação como prioridade estratégica — e não como um evento protocolar do calendário”, finaliza o infectologista.

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