22 de novembro de 2024

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Dados da OMS apontam para aumento de 27% dos casos de câncer de mama na próxima década

Foto: Freepik

No mesmo período, a projeção é que a taxa de mortalidade aumente em 33%. Dados reforçam a importância da campanha Outubro Rosa, com estímulo à adoção de um estilo de vida saudável e outras medidas preventivas para redução da carga global da doença, alerta a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). No Brasil, a estimativa é que sejam registrados mais de 73 mil casos novos anuais de câncer de mama em 2024 e 2025

O câncer de mama, doença que representa três em cada dez casos de câncer nas mulheres brasileiras, é o mais comum em mais de 157 países. No Brasil, a projeção para 2024 e 2025, é que 73.610 mulheres, em cada um destes anos, devem receber o diagnóstico de câncer de mama. Em todo o mundo, são registrados 2,3 milhões de novos anuais, com projeção de saltar para 2,9 milhões em 2035, o que representa um aumento de 27% no número absoluto de casos na próxima década. No período, a projeção é que a mortalidade anual por câncer de mama passe de 666 mil para 888 mil, um aumento de 33%. O câncer de mama não é exclusivo das mulheres. Cerca de 0,5% a 1% dos casos ocorrem em homens. Isso representa 1 caso em homem a cada 100 a 200 casos em mulheres.  

Os dados acima, referenciados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) e os levantamentos Cancer Today e Cancer Tomorrow da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS), precisam ser vistos além dos números, alerta a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), que reforça a importância da campanha Outubro Rosa para a conscientização sobre a doença, estimulando, junto à população, medidas para prevenção primária (evitar que a doença ocorra, por exemplo, com adoção de estilo de vida saudável), prevenção secundária (diagnóstico precoce) e terciária (início do tratamento em prazo adequado, com qualidade). 

“A estratégia mais inteligente a ser adotada por todos é a do incentivo à prevenção. A redução nacional e global do número de casos de câncer de mama passa por uma dieta equilibrada, prática de atividade física, redução e manutenção do peso, limitação do consumo de bebidas alcoólicas e não fumar. Com isso, se reduz a incidência e menos mulheres vão receber o diagnóstico e necessitar de tratamento”, observa o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e titular do Hospital de Base, de Brasília. 

“O diagnóstico precoce é fundamental para reduzir o impacto físico, emocional e financeiro do tratamento, mas hoje é possível falar em ganho de tempo e qualidade de vida também para as mulheres que descobrem a doença em fase mais avançada. Todas estão inseridas e estão abraçadas pela campanha Outubro Rosa”, afirma a médica mastologista Fabiana Baroni Makdissi, membro da Comissão de Mulheres Cirurgiãs da SBCO e líder do Centro de Referência de Tumores da Mama do A.C.Camargo Cancer Center. 

GENÉTICO, MAS NEM SEMPRE HEREDITÁRIO 

Todo câncer é genético, ou seja, ocorre em decorrência de alterações no DNA, mas em uma minoria dos casos essa alteração genética foi herdada ao nascer. Em cerca de 80% dos casos, o câncer de mama ocorre em decorrência de mutações esporádicas, que têm múltiplas causas associadas (hormonais e comportamentais, associadas ao estilo de vida):   

HORMONAIS
Primeira menstruação antes dos 12 anos, primeira gravidez depois dos 30 anos, não ter filhos, não amamentar, menopausa após os 55 anos, reposição hormonal na pós-menopausa (por mais de 5 anos).

COMPORTAMENTAIS / ESTILO DE VIDA
obesidade, sedentarismo, consumo excessivo de álcool, tabagismo ativo e passivo e
exposição frequente a radiações (tomografia, radiografia).

CÂNCER DE MAMA HEREDITÁRIO

Embora apenas 5% a 10% dos casos o câncer de mama tenha origem em uma mutação genética hereditária, é importante que essa população esteja alerta. Os principais pontos a serem observados são:
– Histórico de câncer de ovário na família;
– História familiar de câncer de mama (sobretudo antes dos 50 anos)
– Câncer de mama em algum homem da família.

Trata-se de mutações em um ou mais genes presentes em células germinativas (óvulos e espermatozoides) e que podem ser transmitidas para a próxima geração. A mutação mais conhecida é a no gene BRCA, como foi o caso, mundialmente conhecido, da atriz Angelina Jolie. Por conta da mutação hereditária, ela tinha uma maior predisposição para desenvolver câncer de mama (apresentava a síndrome de câncer de mama e ovário hereditário).

A identificação de síndromes hereditárias frequentemente levanta a necessidade de considerar cirurgias redutoras de risco como parte de uma estratégia preventiva. Essas intervenções podem ser fundamentais para pacientes com um alto risco genético de desenvolver câncer de mama, como ocorre na presença de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2.  A recomendação é fazer cirurgias redutoras de risco, como a mastectomia profilática (preventiva) e a remoção das trompas e ovários, preferencialmente entre 30 e 35 anos para BRCA1 e entre 35 e 40 anos para BRCA2. 

ANCESTRALIDADE E CÂNCER DE MAMA 

Um estudo publicado em 2023 na revista científica Clinical Breast Cancer, avaliou a ancestralidade genética e dados clínicos de 1.127 mulheres diagnosticadas com câncer de mama. Observou-se que são mais altas as taxas de tumores HER-2+ e tumores triplo negativos, de mais difícil tratamento, entre as mulheres de ascendência africana nas regiões Norte e Nordeste. Nessa população, os autores observaram maiores taxas de doença avançada e metastática no momento do diagnóstico, sendo os tumores triplo-negativos mais frequentes em mulheres jovens.

“Encontramos diferenças na ancestralidade genética, etnia autorreferida e subtipo molecular entre as regiões demográficas brasileiras. O conhecimento dessas características pode contribuir para uma melhor compreensão da idade ao diagnóstico e da distribuição molecular do câncer de mama no Brasil e contribuir, inclusive, para as políticas de rastreamento”, afirma René Aloísio da Costa Vieira, um dos autores do estudo e coordenador da Comissão de Neoplasias da Mama da SBCO. 

CIRURGIA EM CÂNCER DE MAMA – A indicação de cirurgia do câncer de mama depende do estágio em que a doença foi detectada. De maneira geral, a maioria das mulheres diagnosticadas passam por esse procedimento, ainda que com objetivos distintos. Essa definição com relação ao procedimento mais indicado fica a cargo do cirurgião oncológico e de sua equipe, que avaliam cuidadosamente a extensão da doença e quais as medidas de tratamento a serem adotadas. É importante contar com o acompanhamento de profissionais qualificados, em centros oncológicos de referência para o tratamento do câncer de mama.

Viviane Rezende de Oliveira, diretora de relações parlamentares da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), explica que há diferentes tipos de cirurgia do câncer de mama. A definição ocorre de acordo com o objetivo do procedimento e com as condições — tanto da paciente quanto do tumor —, haverá uma cirurgia mais adequada. 

Cirurgia conservadora da mama – Esse procedimento é conhecido como mastectomia parcial ou segmentar, mas também é chamada de lumpectomia ou quadrantectomia. A quantidade de tecido mamário removido varia de acordo com o tamanho e localização do tumor, além de outros fatores, como a probabilidade de dissipação de células tumorais. Na prática, se dá pela retirada do segmento ou do setor da mama onde está localizado o tumor. Neste caso, o cirurgião oncológico deve extrair o tumor com uma porção de tecido saudável adjacente, como margem de segurança.

Mastectomia – Nesse procedimento é feita a retirada completa da mama, incluindo todo o tecido mamário. No caso da chamada mastectomia radical, podem ser removidos outros tecidos próximos como os músculos que se localizam abaixo da mama com os gânglios axilares – geralmente indicada para grandes tumores em que já há ínguas comprometidas ou o risco de disseminação é elevado.

Há, ainda, a chamada Mastectomia Total com utilização da pesquisa de linfonodo sentinela (a íngua que inicialmente drena estes tumores). Este procedimento é indicado, muitas vezes, para poupar a paciente de tratamentos complementares como a Radioterapia. O objetivo é minimizar os efeitos colaterais do tratamento oncológico.

Mastectomia redutora de risco – Esse procedimento, chamado de mastectomia profilática, ganhou mais visibilidade na última década, depois de adotado por algumas celebridades. O procedimento cirúrgico é indicado basicamente em duas situações:

Alto risco de câncer de mama: mulheres com predisposição hereditária ao câncer de mama (alterações nos genes BRCA1 e BRCA2) podem fazer a remoção profilática para evitar ou minimizar os riscos de desenvolvimento de tumores, e

Pacientes já diagnosticadas: mulheres com diagnóstico de câncer em uma das mamas —com tumores específicos que apresentem risco de bilateralidade, como o carcinoma lobular — podem optar, caso haja concordância médica, pela remoção dupla para reduzir as chances de ser acometida pela doença.

É importante ter em mente que, para pessoas sem histórico familiar de câncer nem mutação genética, detectada por rastreamento, ainda não existem estudos conclusivos sobre o benefício da mastectomia preventiva. Antes de passar pelo procedimento, é fundamental ser avaliada por um especialista em cirurgia oncológica e, ainda, estar ciente dos efeitos colaterais dessa intervenção.

Como são os cuidados antes e depois da cirurgia? – O tratamento do câncer de mama não se restringe à cirurgia e envolve aspectos emocionais muito fortes, com abalo significativo da autoestima. Por esse motivo, a atenção em todos os momentos do processo de cura é realizada por uma equipe multidisciplinar.

Antes da cirurgia – É importante realizar todos os exames solicitados e conversar com os profissionais envolvidos no tratamento (de enfermeiros e psicólogos) sobre suas apreensões e dúvidas. Essa fase de esclarecimentos é essencial para passar pelo procedimento com mais tranquilidade.

Pós-cirúrgico – A recuperação da cirurgia de câncer de mama segue o padrão de boa parte dos pós-operatórios. Quando o procedimento transcorre normalmente, é comum que a paciente já possa retomar suas atividades normais no prazo de duas semanas.

Dependendo de cada caso, podem ser iniciadas terapias complementares, como radioterapia e/ou quimioterapia.

Quais são os sintomas de alerta para câncer de mama?

O sintoma mais comum da doença é o surgimento de um nódulo no seio, geralmente detectado durante o autoexame ou em uma consulta de rotina. Além do caroço no seio, existem outros sinais de alerta aos quais é importante estar atenta:

  • pele da mama avermelhada ou retraída;
  • aspecto de casca de laranja nas mamas;
  • alterações no mamilo, como inversão ou descamação;
  • pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço e
  • secreção anormal — geralmente sanguinolenta — nos mamilos.

É possível prevenir o câncer de mama?

A prevalência do câncer de mama — assim como ocorre em outros órgãos — está fortemente relacionada a fatores externos, conforme abordamos acima. Neste sentido, muitas pesquisas recentes indicam que, ainda que não seja possível eliminar totalmente as causas da doença, é possível adotar um estilo de vida para afastar-se dos riscos.

O Ministério da Saúde estima que cerca de 28% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a mudança de hábitos. Entre as práticas saudáveis e preventivas podemos destacar:

  • redução e manutenção do peso corporal saudável;
  • prática de atividade física por, pelo menos, 150 minutos semanais;
  • acompanhamento adequado em casos de reposição hormonal pós-menopausa;
  • limitação no consumo de bebidas alcoólicas;
  • abandono do tabagismo;
  • visitas regulares ao ginecologista, com realização de exames preventivos.

RASTREAMENTO

Para a prevenção secundária (diagnóstico precoce de câncer de mama) há uma política de rastreamento. O Ministério da Saúde recomenda a realização de mamografia bianual a partir dos 50 anos, para as mulheres sem sintomas ou sem história prévia pessoal ou familiar da doença. O exame é oferecido no Sistema Único de Saúde (SUS). Há uma controversa mundial, motivo de estudos em todo o mundo, de que o ideal poderia ser oferecer os exames de rastreamento populacional para também as mulheres na faixa de 40 a 49 anos, com repetição anual. O câncer de mama, quando diagnosticado precocemente, é curado em mais de 90% dos casos. 

COMO SURGIU O OUTUBRO ROSA? – A história do Outubro Rosa remete ao ano de 1980, quando Nancy G. Brinker prometeu à sua irmã Susan Komen, então diagnosticada com câncer de mama, que se dedicaria integralmente a promover a conscientização da sociedade sobre os temas relacionados à doença. Em 1982, Brinker lançou a Susan G. Komen®, organização que, em 1990, promoveria a Corrida pela Cura, evento que se tornou o marco que deu início ao Outubro Rosa. No Brasil, a campanha Outubro Rosa teve uma primeira sinalização em 2002, quando o Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo, foi iluminado de cor de rosa. Seis anos depois, o movimento se fortaleceu no país, atingindo diferentes cidades brasileiras, com múltiplas ações.

Sobre a SBCO – Fundada em 31 de maio de 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) é uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, que agrega cirurgiões oncológicos e outros profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar ao paciente com câncer. Sua missão é também promover educação médica continuada, com intercâmbio de conhecimentos, que promovam a prevenção, detecção precoce e o melhor tratamento possível aos pacientes, fortalecendo e representando a cirurgia oncológica brasileira. É presidida pelo cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro (2023-2025).

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