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Doença silenciosa pode afetar nervos e mascarar sintomas de infarto e AVC; 80% dos diabéticos tipo 2 morrem por causas cardiovasculares
As doenças cardiovasculares seguem como a principal causa de morte no Brasil, respondendo por cerca de 30% dos óbitos anuais, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e o Ministério da Saúde. Apesar de serem comumente associados à população idosa, infartos e acidentes vasculares (AVCs) vêm ocorrendo cada vez mais cedo. Um dos fatores silenciosos por trás desse avanço é o diabetes tipo 2, doença que atinge cerca de 16 milhões de brasileiros, segundo o Atlas Mundial de Diabetes 2025.
“É comum o paciente descobrir o diabetes apenas depois de sofrer um infarto ou AVC. Isso acontece porque a doença, quando mal controlada, acelera o processo de formação de placas nas artérias e facilita a obstrução dos vasos”, explica o endocrinologista Marcio Krakauer, cofundador da Health Tech G7med.
Dados da International Diabetes Federation indicam que até 80% das mortes entre pessoas com diabetes tipo 2 estão relacionadas a causas cardiovasculares. O risco se torna ainda maior quando a glicemia elevada se soma a outros fatores, como pressão alta, colesterol alterado e sobrepeso.
Segundo Krakauer, o problema é que muitos desses pacientes não apresentam sintomas evidentes, mesmo quando estão em quadros avançados. “O diabetes pode afetar os nervos que transmitem a sensação de dor. Por isso, em vez da dor no peito típica do infarto, o paciente diabético pode sentir apenas cansaço, suor ou náuseas. Em muitos casos, isso atrasa o diagnóstico e compromete o tratamento.”
Além da identificação precoce, a prevenção depende do controle da glicemia e dos fatores de risco associados. A recomendação do especialista é manter uma rotina de exames, adotar hábitos saudáveis e, quando necessário, fazer uso de medicações que atuam não só no controle do açúcar no sangue, mas também na proteção cardiovascular.
“Hoje temos medicamentos com benefícios comprovados na redução do risco de infartos e AVCs em pacientes com diabetes tipo 2. O desafio é garantir o acesso a essas terapias, especialmente na rede pública, além de aumentar o conhecimento da população”, afirma o endocrinologista.
O alerta é ainda mais importante entre os jovens, que têm sido diagnosticados com diabetes mais cedo, muitas vezes em decorrência do sedentarismo, da má alimentação e do excesso de peso. “Estamos falando de uma geração com risco de sofrer problemas cardiovasculares antes dos 40 anos, algo impensável há poucas décadas. É preciso mudar esse percurso com urgência”, reforça Krakauer. Isso porque níveis elevados de glicose no sangue de forma persistente e prolongada — principal característica do diabetes — provocam danos progressivos às paredes dos vasos sanguíneos.
Esses danos favorecem o desenvolvimento de problemas como pressão alta, cardíacos e acúmulo de gordura e outras substâncias nas paredes das artérias, que acabam ficando mais estreitas e dificultam a circulação do sangue. Quando somados a outros fatores de risco, como obesidade e sedentarismo, eles elevam consideravelmente o risco de infartos e acidentes vasculares cerebrais.
Sobre Marcio Krakauer
Médico endocrinologista, fundador e presidente da ADIABC; cofundador e diretor médico executivo da health tech G7med.