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Três mortes recentes em academias — registradas no Rio de Janeiro, Distrito Federal e Bahia — reacenderam o debate sobre a importância dos exames cardiológicos preventivos e da preparação dos estabelecimentos para lidar com emergências médicas
Na noite de 20 de maio, Dayane de Jesus, de 22 anos, sofreu um mal súbito enquanto treinava em uma academia de Copacabana, na Zona Sul do Rio. Estudante de Relações Internacionais da UFRJ, ela teria tido uma parada cardiorrespiratória. Testemunhas relataram a ausência de um desfibrilador no local, que foi interditado pela polícia por descumprimento de normas administrativas relacionadas ao atendimento de urgência.
Outro caso aconteceu em fevereiro deste ano, em uma unidade da rede Smart Fit no Guará II, no Distrito Federal. Uma mulher de 46 anos passou mal durante o treino, caiu e bateu a cabeça em um equipamento. A suspeita também é de parada cardiorrespiratória.
Ainda em fevereiro, no dia 17, uma mulher de 43 anos morreu após sofrer um mal súbito enquanto se exercitava em uma academia em Santo Estêvão, na Bahia. Segundo a Polícia Civil, que investiga o caso, a vítima usava a cadeira extensora quando relatou uma forte dor de cabeça e começou a passar mal. Imagens do circuito interno da academia registraram o momento em que ela aparenta dificuldade para respirar antes de desmaiar.
Para o cardiologista Fabrício da Silva, episódios como esses podem ocorrer mesmo entre pessoas jovens e aparentemente saudáveis. “Condições cardíacas não diagnosticadas, como cardiomiopatia hipertrófica, arritmias e anomalias congênitas, estão entre as causas mais comuns de mal súbito. Os fatores de risco incluem histórico familiar, uso de substâncias estimulantes e treinos intensos sem acompanhamento médico”, explica.
Segundo ele, a prevenção começa por exames simples. “O eletrocardiograma (ECG) deve ser o primeiro passo. Em pessoas com fatores de risco, exames complementares como ecocardiograma e teste ergométrico são fundamentais”, orienta.
Fabrício também alerta para o uso indiscriminado de suplementos e bebidas energéticas. “Muitos pré-treinos contêm doses elevadas de cafeína e outros estimulantes que podem provocar arritmias e picos de pressão arterial, aumentando o risco de eventos cardíacos.”
E os primeiros socorros?
Além da prevenção, a estrutura de atendimento imediato pode ser decisiva para salvar vidas. O médico Paulo Guimarães, especialista em primeiros socorros, reforça que a resposta rápida é essencial. “Ao presenciar um mal súbito, é preciso verificar a consciência da vítima, acionar o Samu pelo 192 e iniciar a reanimação cardiopulmonar (RCP) se necessário. O uso de um desfibrilador externo automático (DEA), quando disponível, pode ser determinante”, explica.
Ele defende que todas as academias estejam equipadas com pelo menos um DEA e contem com funcionários treinados para utilizá-lo. “O desfibrilador pode restaurar o ritmo cardíaco e aumenta significativamente as chances de sobrevivência. É um equipamento de uso simples, mas que salva vidas.”
Guimarães também ressalta que os profissionais que atuam nesses ambientes devem ser capacitados em suporte básico de vida (BLS), incluindo técnicas de RCP e uso do DEA. “Esse tipo de treinamento já é obrigatório para profissionais que atuam em academias, mas infelizmente o tema não é levado tão a sério e quando tragédias como essas das últimas semanas ocorrem o assunto vem a tona.” reforça.