24 de fevereiro de 2025

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Nova vacina personalizada mostra resultados promissores contra câncer renal avançado

Foto: Freepik

Estudo publicado pela Nature revela que todos os pacientes do ensaio clínico desenvolveram resposta imune após receberem o tratamento

Um estudo inédito, publicado recentemente na revista científica Nature, trouxe esperança para pacientes com câncer renal avançado. Pesquisadores demonstraram que uma nova vacina personalizada foi capaz de gerar resposta imune anticâncer em todos os nove participantes do ensaio clínico, abrindo caminho para uma nova era no tratamento da doença.

“Estamos muito animados com esses resultados, que mostram uma resposta tão positiva em todos os nove pacientes com câncer renal”, afirma Toni Choueiri, diretor do Lank Center for Genitourinary Cancer do Dana-Farber e copesquisador principal do estudo.

A nova abordagem foi testada em pacientes com carcinoma renal de células claras em estágio III ou IV, após a cirurgia de remoção de todo o tumor, como uma estratégia para reduzir o risco de recidiva tumoral. Cinco dos participantes também receberam o medicamento imunoterápico ipilimumabe em conjunto com a vacina. De acordo com os pesquisadores, a resposta imune foi detectada em apenas três semanas, com um aumento de 166 vezes no número de células T – responsáveis pela defesa do organismo. Além disso, estes níveis permaneceram elevados por até três anos, interrogando a manutenção do benefício mesmo após interrupção do tratamento.

Como funciona a vacina personalizada

“Trata-se de uma abordagem inovadora que, de fato, se diferencia das tentativas anteriores de vacina no câncer renal”, explica Breno Jeha Araújo, oncologista especializado em genômica clínica da Oncoclínicas. 

No caso da nova terapia testada, os pesquisadores escolheram alvos que são exclusivos do câncer e diferentes de qualquer parte normal do corpo. Isso permitiu que o sistema imunológico do paciente fosse efetivamente ‘direcionado’ para combater a doença de uma forma muito específica.

“O desenvolvimento desse tipo de vacina oncogênica envolve um processo altamente personalizado. A partir das células tumorais removidas por meio de uma cirurgia, os pesquisadores identificaram características moleculares específicas – os chamados neoantígenos –  que as distinguem das células normais. Usando algoritmos preditivos, a equipe selecionou quais desses neoantígenos possuíam maior probabilidade de induzir uma resposta imune eficaz“, detalha Araújo.

O estudo se insere em um momento de grandes avanços na área de vacinas oncológicas. Segundo o médico da Oncoclínicas, essa alternativa contra o câncer tem caráter terapêutico, sendo projetada para tratar a doença já existente, que foi removida cirurgicamente. “Esse tipo de vacina oferece ao corpo humano uma maior capacidade de reconhecer e combater tumores específicos, representando uma nova era nos tratamentos oncológicos”, diz.

Novas opções terapêuticas são necessárias para pacientes com câncer renal avançado. Embora a cirurgia seguida de imunoterapia com pembrolizumabe seja uma opção ativa, cerca de dois terços dos pacientes podem sofrer recidivas e têm opções limitadas de tratamento. De acordo com os pesquisadores responsáveis pelo estudo, pacientes com câncer renal em estágio III ou IV correm alto risco de recorrência, e as ferramentas atualmente disponíveis para reduzir as chances de recidiva até então se mostravam pouco efetivas.

Nenhum efeito colateral grave foi relatado pelos participantes do estudo, aumentando as expectativas para o futuro desta nova abordagem terapêutica.

Próximos passos

Um estudo randomizado internacional multicêntrico já está em andamento para avaliar a eficácia da vacina em um grupo maior de pacientes. O novo ensaio combinará a vacina personalizada com imunoterapia (pembrolizumabe), buscando confirmar os resultados promissores observados nesta primeira análise.

Apesar do otimismo, Araújo aponta que ainda existem desafios a serem superados, principalmente relacionados à produção em larga escala e acesso ao tratamento. ”O uso de vacinas personalizadas contra o câncer representa desafios técnicos e logísticos, especialmente em relação à escalabilidade e ao custo de produção. A personalização de cada dose, embora seja fundamental para a eficácia do tratamento, torna o processo mais complexo e custoso”, analisa o especialista da Oncoclínicas. 

Ainda assim, o avanço das vacinas oncológicas é um marco científico que pode efetivamente transformar o tratamento do câncer. “Será essencial desenvolver estratégias que assegurem seu acesso global, para que essa nova era da medicina personalizada beneficie a sociedade em geral, e não apenas uma parcela de pacientes economicamente privilegiados”, concluí Breno Jeha Araújo.

Panorama do câncer renal

Segundo a International Kidney Cancer Coalition (IKCC), o câncer renal é o que mais vem crescendo no mundo. Todos os anos, são diagnosticadas mais de 400 mil pessoas com a neoplasia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, são cerca de 12 mil diagnósticos por ano, ainda segundo a entidade.

A doença, silenciosa, é responsável por cerca de 2-3% das patologias malignas que atingem os adultos. Muitas vezes, a lesão no rim é descoberta quando o paciente realiza um exame para outra finalidade, como um ultrassom do abdome, por exemplo, e afeta comumente pessoas com idade entre os 60 e 70 anos, sendo duas vezes mais incidente nos homens que nas mulheres. 

Dentre esses casos, o tipo mais comum é o câncer renal de células claras, que responde por 80 – 85% dos tumores diagnosticados. Em adultos, os tumores renais ocupam a terceira posição em incidência entre as neoplasias do aparelho geniturinário.

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