30 de maio de 2025

Ozempic e outros medicamentos para diabetes podem reduzir risco de câncer em 7%, aponta estudo

Foto: Freepik

Pesquisa com mais de 170 mil pacientes será apresentada no maior congresso de oncologia do mundo no próximo domingo (2)

Medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, amplamente utilizados para tratamento do diabetes e perda de peso, podem reduzir em 7% o risco de desenvolver 14 tipos de câncer relacionados à obesidade. A descoberta é resultado de um amplo estudo (ABSTRACT #: 10507) que será apresentado no domingo (2) durante a reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), o maior congresso de oncologia do mundo, em Chicago.
 

A pesquisa, liderada por Lucas A. Mavromatis, da Escola Grossman de Medicina da Universidade de Nova York, analisou dados de 170.030 pacientes com diabetes e obesidade em 43 sistemas de saúde dos Estados Unidos entre 2013 e 2023. Os participantes tinham em média 56,8 anos e índice de massa corporal (IMC) de 38 kg/m².
 

“Embora a obesidade seja agora reconhecida como uma causa cada vez mais importante de câncer, nenhum medicamento comprovadamente reduz o risco de câncer associado à obesidade”, afirma Mavromatis. “Nossos resultados sugerem que eles podem reduzir modestamente a chance de desenvolver determinados tipos de câncer, especialmente os de cólon e reto, e reduzir as taxas de morte por todas as causas”.
 

Resultados promissores, mas com ressalvas

Durante o período de acompanhamento de cerca de quatro anos, metade dos pacientes recebeu tratamento com agonistas de GLP-1 (classe à qual pertencem Ozempic, Wegovy e Mounjaro), enquanto a outra metade foi tratada com inibidores de DPP-4, medicamentos para diabetes que não induzem perda de peso.
 

Os resultados mostraram que aqueles que usaram os medicamentos da classe do Ozempic apresentaram não apenas 7% menos risco de desenvolver cânceres associados à obesidade, mas também 8% menos chance de morrer por qualquer causa. Na prática, isso representou 170 casos a menos de câncer no grupo que utilizou os agonistas de GLP-1.
 

A proteção foi especialmente significativa para tumores colorretais: 16% de redução para câncer de intestino e 28% para câncer retal. “Quando analisados os dados por gênero — feminino e masculino —, não houve diferença estatística significativa. No entanto, é interessante observar que, entre as mulheres, houve uma redução de 8% no risco de câncer — ou seja, 1% a mais em comparação com a média geral — e uma redução de 20% na mortalidade por todas as causas no grupo que utilizou agonistas de GLP-1”, explica Alessandra Rascovski, endocrinologista e diretora clínica da Atma Soma.
 

“É um resultado bastante interessante e que merece atenção da comunidade médica. Já sabemos há muito tempo da associação entre obesidade e o risco aumentado de diversos tipos de câncer, por isso qualquer intervenção que possa contribuir para a redução desse risco é bem-vinda. No entanto, é fundamental destacar que se trata de um estudo observacional, e não de um ensaio clínico controlado. Ou seja, os dados levantam uma hipótese relevante — a de que a medicação pode reduzir o risco de desenvolvimento de tumores —, mas essa relação ainda precisa ser confirmada por estudos futuros”, avalia Mauro Donadio, oncologista da Oncoclínicas.
 

Limitações e próximos passos

O estudo é do tipo observacional, o que significa que identifica associações entre o uso dos medicamentos e a redução do câncer, mas não comprova uma relação direta de causa e efeito. “Esses dados são tranquilizadores, mas são necessários mais estudos para comprovar a causalidade”, reconhece o próprio autor da pesquisa.
 

Robin Zon, presidente da Asco, destaca a relevância dos achados: “Atendo muitos pacientes com obesidade e, dada a clara ligação entre câncer e obesidade, é importante definir o papel clínico dos medicamentos GLP-1 na prevenção do câncer. Embora esse estudo não estabeleça a causa, ele sugere que esses medicamentos podem ter um efeito preventivo”.
 

Os pesquisadores pretendem acompanhar os pacientes por períodos mais longos e conduzir novos estudos em pessoas sem diabetes que utilizam estes medicamentos.
 

Tipos de câncer associados à obesidade

O estudo avaliou 14 tipos de câncer com comprovada relação com a obesidade:

  1. Adenocarcinoma do esôfago
  2. Mama (em mulheres pós-menopáusicas)
  3. Intestino
  4. Reto
  5. Útero
  6. Vesícula biliar
  7. Parte superior do estômago
  8. Rins
  9. Fígado
  10. Ovários
  11. Pâncreas
  12. Tireoide
  13. Meningioma (tipo de câncer cerebral)
  14. Mieloma múltiplo

Tendência crescente de pesquisas

Este não é o primeiro estudo a sugerir benefícios dos agonistas de GLP-1 na prevenção do câncer. Em julho do ano passado, uma pesquisa publicada na revista JAMA Network Open, com 1,6 milhão de pacientes diabéticos, já havia encontrado redução em pelo menos 10 tipos de câncer ligados à obesidade.
 

Recentemente, outro estudo apresentado no Congresso Europeu de Obesidade, em Málaga, encontrou resultados similares aos observados em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, sugerindo que os mecanismos de proteção podem ir além da simples perda de peso.
 

“O interesse científico nesta área está crescendo rapidamente”, observa Donadio. “Os agonistas de GLP-1 podem ter efeitos anti-inflamatórios e de modulação do metabolismo que vão além do controle glicêmico e da perda de peso. Mas ainda precisamos de mais evidências antes de considerarmos seu uso específico para prevenção de câncer”.
 

A apresentação completa dos resultados está marcada para às 13h40 (horário local) do domingo (02/06), durante a sessão de Prevenção de Câncer da Asco 2025.
 

Como agem as chamadas canetas emagrecedoras

A obesidade está associada ao desenvolvimento de diversas doenças, como a Diabetes tipo 2 e Hipertensão Arterial, além de aumentar consideravelmente as chances de Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença cardiovascular, aparecimento de diversos tipos de câncer e até demência, entre outros. Contudo, as chamadas “canetas para emagrecer” vem representando um ponto de partida importante nesse cenário.
 

“Inicialmente desenvolvidas para combater a diabetes, as canetas vem sendo usadas por especialistas também no combate à obesidade, um uso off label, mas que não é prejudicial. E já há canetas voltadas especialmente para a obesidade, inclusive, aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em geral, elas agem simulando simulando a ação do GLP-1, hormônio produzido no intestino que regula a glicemia, diminui a fome e aumenta a saciedade”, explica Alessandra Rascovski.
 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pessoa é considerada obesa quando seu Índice de Massa Corporal (IMC) é igual ou superior a 30 quilos por metro quadrado (kg/m²). A faixa de peso normal varia entre 18,5 kg/m² e 24,9 kg/m².
 

Atualmente, cerca de 31% da população brasileira vive com obesidade, e 68% têm excesso de peso, somando sobrepeso e obesidade. De acordo com dados apresentados no Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO) do ano passado, quase metade dos brasileiros adultos (48%) sofrem com essa condição e mais 27% terão sobrepeso até 2044, totalizando 75% da população adulta.
 

Sobre a Oncoclínicas&Co  
 

Oncoclínicas&Co é o maior grupo dedicado ao tratamento do câncer na América Latina, com um modelo hiperespecializado e inovador voltado para a jornada oncológica. Com um corpo clínico formado por mais de 2.900 médicos especialistas em oncologia, a companhia está presente em 40 cidades brasileiras, somando mais de 140 unidades. Com foco em pesquisa, tecnologia e inovação, o grupo realizou nos últimos 12 meses cerca de 682 mil tratamentos. A Oncoclínicas segue padrões internacionais de excelência, integrando clínicas ambulatoriais a cancer centers de alta complexidade, potencializando o tratamento com medicina de precisão e genômica. Parceira exclusiva no Brasil do Dana-Farber Cancer Institute, afiliado à Harvard Medical School, adquiriu a Boston Lighthouse Innovation (EUA) e possui participação na MedSir (Espanha). Integra ainda o índice IDIVERSA da B3, reforçando seu compromisso com a diversidade. Com o objetivo de ampliar sua missão global de vencer o câncer, a Oncoclínicas chegou à Arábia Saudita por meio de uma joint venture com o Grupo Al Faisaliah, levando sua expertise oncológica para um novo continente. Saiba mais em: www.oncoclinicas.com.

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