31 de outubro de 2024

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Pesquisadores brasileiros mapeiam impacto das fake news no cérebro

Foto: Freepik

Brasília-DF, outubro de 2024 – Estudo promovido por pesquisadores associados ao Programa de Doutorado em Direito da Universidade de Brasília (UnB) e ao Mestrado em Comunicação Digital do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), mapeou os elementos utilizados por fake news para acionar gatilhos mentais e serem compartilhadas com mais facilidade. 

A pesqusia descobriu que a desinformação tem mais chances de ser compartilhada quando é atribuída a figuras de autoridade, como líderes religiosos ou políticos, o que reforça o que os pesquisadores chamam de ‘viés de autoridade’. A taxa média de tendência de compartilhamento de conteúdos reconhecidos como falsos no WhatsApp ficou em 8%. Quando a fake news é distribuída em forma de card, as chances sobem para 10% e disparam para 31,75% quando estão na forma de vídeo.

O estudo mostra que conteúdos que evocam fortes emoções, como raiva, medo ou indignação se aproveitam de gatilhos mentais e têm maior probabilidade de serem compartilhados. Quando o conteúdo desinformativo apela para temas morais e emocionais, seu impacto é ainda maior. “Temas que tocam a moralidade e utilizam categorias religiosas, como ‘pecado’ ou ‘salvação’, tendem a gerar reações emocionais muito fortes, o que amplia a capacidade de replicação dessas mensagens nas redes sociais”, destaca o estudo.

Para acessar o conteúdo da pesquisa, clique aqui.

Realizado em setembro de 2024 por pesquisadores o estudo desmistifica o estereótipo de quem compartilha fake news. “Não estamos falando de pessoas ingênuas, sem acesso à informação ou sem estudos. Pelo contrário, o compartilhamento é uma forma de se conectar com outros indivíduos que compartilham as mesmas crenças. As pessoas repassam as fake news para ter algum tipo de reconhecimento social, mesmo em microcosmos, como grupos de whatsapp”, explicou José Jance Marques Grangeiro, um dos coordenadores da pesquisa.

Forma, gesto e cores – A pesquisa demonstrou que os vídeos desinformativos, por sua natureza multimodal, têm uma capacidade maior de engajar a audiência, tanto no nível cognitivo quanto no afetivo. Esse formato combina imagens, sons e narrativas de forma a criar um impacto mais profundo, como foi demonstrado pelos picos de atividade nas ondas cerebrais beta e gama dos participantes durante a exposição aos vídeos. “Os vídeos estimulam diversas áreas do cérebro simultaneamente, o que intensifica a retenção e o impacto emocional da mensagem”, explicou Grangeiro.

Os elementos visuais também se destacaram como fatores cruciais na propagação de desinformação. Cards que utilizam imagens impactantes e cores vibrantes, especialmente o vermelho, chamaram a atenção dos participantes e demonstraram alta capacidade de retenção da informação. Mensagens que mostravam figuras públicas utilizando expressões enfáticas ou gestos corporais demonstraram ser mais convincentes e geraram um maior envolvimento emocional do público. “Esse tipo de comunicação visual não verbal cria um vínculo de proximidade e confiança, que aumenta a predisposição das pessoas a acreditarem no conteúdo, mesmo sem provas”, destacou Grangeiro.

Desafios – Além de relevar o impacto das fake news no cérebro, a pesquisa permite entender os gatilhos mentais que tornam o conteúdo desinformativo tão atraente e pode contribuir na construção de conteúdos legítimos. “Compreender como essas mensagens conseguem engajar a audiência pode nos ajudar a criar campanhas de conscientização mais eficazes, que promovam a verificação de fatos e o consumo crítico de informações. As técnicas utilizadas para disseminar desinformação podem ser adaptadas para a produção de conteúdo legítimo, ampliando o alcance de mensagens verdadeiras e promovendo um debate público mais saudável”, explicou Grangeiro.

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