Idália Oliveira, pesquisadora e técnica de enfermagem da Maternidade Climério de Oliveira da UFBA / Foto: Divulgação / Rede Ebserh
Os 45 hospitais da Rede são campos de pesquisa que trazem benefícios à saúde da população das cinco regiões
Brasília (DF) – A ciência salva pessoas, melhora a qualidade de vida e traz uma série de benefícios à população Brasil afora. Isso é tão relevante que ganhou até uma data: o 8 de julho, quando se comemora o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico. Para celebrar a importância dos seus cientistas e pesquisadores, a Rede Ebserh ouviu cinco dos seus milhares de pesquisadores que fazem dos 45 hospitais vinculados à estatal um potente campo de estudos que melhora a vida das pessoas.
O olhar da técnica de enfermagem Idália Oliveira, lotada na UTI Neonatal da Maternidade Climério de Oliveira, da Universidade Federal da Bahia (MCO-UFBA), vai além da observação da condição física da pessoa. A pesquisadora desenvolve estudos no campo da epidemiologia, de determinantes sociais da saúde, das disparidades raciais, das desigualdades de gênero, justiça reprodutiva e políticas de Saúde Pública.
“As pesquisas em epidemiologia, racismo, gênero e saúde da mulher não apenas expandem o nosso conhecimento científico, mas também têm um impacto tangível na saúde e na qualidade de vida das mulheres, promovendo uma sociedade mais justa, equitativa e saudável”, ressalta
Idália Oliveira. A atuação de Idália foi reconhecida no livro “Pesquisadores Destaque 2024 Brazil Conference at Harvard & Massachusetts Institute of Technology (MIT)”, na categoria Finalistas do Programa de Pesquisadores Destaque, que reconhece e incentiva pesquisadores brasileiros com alto potencial de revolucionar suas áreas.
Idália Oliveira destaca o impacto positivo de pesquisas em saúde pública no Sistema Único de Saúde (SUS). “Elas alicerçam e fortalecem o SUS por subsidiarem a formulação e a implementação de políticas em saúde, com base em evidências sólidas que levam em consideração um olhar mais ampliado de saúde e as especificidades das populações historicamente vulnerabilizadas”, pontua a mestranda em Saúde Coletiva pela UFBA.
Outro ponto central trazido por Idália Oliveira é sobre a necessidade do acesso universal aos meios do “fazer ciência” no Brasil. “Para mim, como mulher, negra, periférica, nordestina e egressa da escola pública os desafios são ainda maiores diante das desigualdades estruturais do racismo e do sexismo. Nós, mulheres negras, somos expostas a maiores barreiras que limitam a nossa inclusão nesses espaços”, explica. A pesquisadora defende o financiamento adequado para pesquisas para não comprometer o desenvolvimento de projetos e a inovação. Também destaca a carência de reconhecimento e incentivos para a carreira científica e as desigualdades regionais como fatores limitantes.
Iniciação científica, uma boa porta de entrada
A iniciação científica estimulada nos cursos de graduação é a porta de entrada natural para a “inoculação do vírus” do fazer ciência. Foi assim com o professor e gerente de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUGG-Unirio), Daniel Aragão, no início dos anos 2000, como bolsista de iniciação científica na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Unirio.
“A maior mudança (ao longo desses 20 anos) foi a velocidade e a facilidade de acesso às informações e dados científicos. O volume de conhecimento produzido entrou numa curva de ascensão franca. Fato que também trouxe a reboque uma quantidade imensa de pesquisas com fragilidades metodológicas consideráveis”, pontua Daniel Aragão. O pesquisador trabalha na linha de Análise Econômica e Avaliação de Tecnologias em Saúde, um setor estratégico para a área de saúde e, em especial, para uma maior eficiência no SUS. “Geramos análises econômicas sólidas sobre tecnologias utilizadas na rede de Atenção à Saúde, de modo a apresentar possíveis caminhos para gestores (tomadores de decisão) sobre a incorporação de novas tecnologias, com base na maximização de benefícios e minimização dos custos, possibilitando abranger uma maior parcela da população que possua algum desvio de saúde específico”, explica Aragão.
Três décadas fazendo ciência
O coordenador da Área Assistencial da Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), Edmundo Lopes, dedica-se a estudar as doenças do fígado (especialmente as hepatites, esquistossomose e a cirrose e suas complicações) há 30 anos.
“Nesse período, vivenciamos a descoberta do vírus da hepatite C (em 1989) e agora estamos vendo o fim desse vírus, por meio do tratamento com os novos e potentes antivirais. O Brasil é signatário de um acordo com a OMS para a eliminação desse vírus e acredito que vamos cumprir ou, pelo menos, chegaremos muito próximos da eliminação”, destaca o professor da UFPE. Edmundo Lopes enaltece a potente parceria entre o SUS e a ciência nacional. “O SUS funciona muito bem em áreas estratégicas, como o Programa Nacional de Vacinação e de Transplante de Órgãos, por exemplo. Muitos desses direcionamentos adotados pelo SUS são baseados nas nossas próprias pesquisas epidemiológicas, particularmente sobre as doenças negligenciadas”, comenta Edmundo Lopes.
Mais incentivos para a ciência
Com atuação nas áreas de urologia e de inovação tecnológica e farmacêutica, especificamente em distúrbios sexuais masculinos, o professor e médico urologista do Hospital Universitário da Universidade Federal do Amapá (HU-Unifap), Lecildo Lira Batista, reforça a importância de mais incentivos para a pesquisa clínica nacional. “Muitos dos medicamentos que estão disponíveis no mercado são oriundos de pesquisa nacional. Deveria haver mais incentivo tanto dos governos quanto da iniciativa privada, principalmente quando tratamos de pesquisas desenvolvidas na Região Norte e aqui no Amapá. Temos ótimos pesquisadores, mas é notável que deveria haver mais incentivos”, explica Lecildo Batista.
O desafio das Doenças Raras
A geneticista Paula Frassinetti atua no Hospital Universitário Alcides Carneiro, da Universidade Federal de Campina Grande (HUAC-UFCG), e, desde 2012, dedica-se a pesquisas sobre doenças raras, um desafio seja pela dificuldade diagnóstica, seja pelo número reduzido de pacientes e pela inexistência de um tratamento específico para a maioria delas. “Ao estudar essas doenças, tem sido possível gerar conhecimento e divulgá-los, o que tem levado a um diagnóstico mais precoce de algumas delas em nossa região. A precocidade do diagnóstico é fundamental para a resposta ao tratamento específico”, ensina Paula Frassinetti. Para a pesquisadora, a grande abrangência e capilaridade do SUS dimensionam bem a sua importância para a ciência nacional. “É muito gratificante quando os resultados de pesquisas nacionais (com ou sem parceria internacional) são incorporadas ao SUS e beneficiam os nossos pacientes”, comenta a geneticista.
Sobre a Ebserh Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.