15 de maio de 2025

Refluxo, tabagismo, obesidade e etilismo são as principais causas de câncer de esôfago

Foto: Freepik

Além de evitar esses fatores de risco, também é indicado não beber líquidos muito quentes e adotar dieta que inclua frutas e vegetais. No Brasil, o câncer esofágico é quase três vezes mais comum nos homens. Com base em dado global, Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) alerta que os casos anuais podem aumentar em 80% até 2050

Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de esôfago –  sexto tipo de tumor maligno mais incidente no sexo masculino – deve ser diagnosticado por 8.200 homens brasileiros em 2025, número quase três vezes maior ao estimado para as brasileiras (2.790 casos). Em âmbito mundial, de acordo com o Globocan, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) há pouco mais do dobro de número de casos entre os homens: 365 mil entre eles e 145 mil novos casos anuais entre as mulheres. 

Com morte anunciada nesta terça (13), o ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, foi diagnosticado com câncer de esôfago em 2024. Dados levantados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) na base Globocan, mostram que o Brasil apresenta a maior incidência (em número absolutos) de câncer de esôfago da América Latina, mas é o quinto em prevalência, com 5,1 casos para cada 100 mil brasileiros. O Uruguai, com uma população de 3,5 milhões de habitantes (quase 4 vezes menor que a população da cidade de São Paulo), aparece na 9ª posição na América Latina em número de casos absolutos (incidência) de câncer de esôfago. Porém, o país registra a segunda maior prevalência entre todas as nações latino-americanas, com 8,1 casos para cada 100 mil uruguaios.  

SAIBA MAIS SOBRE CÂNCER DE ESÔFAGO – Assim como observado com os demais cânceres, os tumores malignos de esôfago ocorrem pela transformação descontrolada das células. No caso específico do câncer de esôfago, as evidências associam o surgimento da doença à irritação crônica deste órgão, a partir de causas como tabagismo, obesidade, etilismo, hábito de consumir bebidas líquidas em altas temperaturas e baixo consumo de frutas e vegetais. Outros fatores de risco são a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e histórico de alterações pré-cancerosas nas células do esôfago (esôfago de Barrett).

Caso medidas efetivas de prevenção não sejam adotadas, a projeção do IARC/OMS para o ano de 2050 é que o número de casos anuais de câncer de esôfago salte dos atuais 511 mil para 922 mil em 2050, um aumento de 80%. “Na maioria dos casos, o câncer de esôfago é uma doença evitável. Cabe a todos os setores da sociedade ampliar o conhecimento da população, por meio de campanhas de conscientização eficazes, sobre as medidas que contribuem para a prevenção da doença”, ressalta o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e titular do Hospital de Base, de Brasília. 

Para prevenir a doença é recomendado não fumar (lembrando que toda forma de consumo de tabaco e seus derivados é nociva, incluindo charuto, narguilé, cigarro eletrônico, entre outros); adicionar uma variedade de frutas e vegetais coloridos à dieta; manter o peso saudável e tratar o refluxo quando houver sintomas. “Além disso, o consumo de bebida alcoólica deve ser evitado. Há estudos que apontam que, para adultos saudáveis, pode ser seguro o consumo no limite de até um drinque por dia para mulheres e até dois drinques por dia para homens”, explica Nascimento. 

Diferentes tipos de câncer de esôfago – O câncer de esôfago é classificado de acordo com o tipo de células envolvidas. Os carcinomas de células escamosas ocorrem mais frequentemente nas porções superior e média do esôfago.  Já o adenocarcinoma, que começa nas células das glândulas secretoras de muco no esôfago, ocorre frequentemente na porção inferior do esôfago.

Cirurgias em casos de câncer de esôfago – O tratamento cirúrgico para pacientes com câncer de esôfago consiste na realização de esofagectomia, que é a remoção total ou parcial do órgão e de margem de segurança (área adjacente ao tumor com tecido normal). Em alguns casos, antes de realizá-lo, pode ser preciso fazer algumas sessões de radioterapia ou quimioterapia (terapias neoadjuvantes).

A esofagectomia pode ser transhiatal, na qual o esôfago é removido por meio de incisões no abdômen e no pescoço, sendo bastante empregada no tratamento de adenocarcinomas. Há também a esofagectomia transtorácica, na qual o órgão é retirado através de incisões no tórax e no abdômen, sendo mais utilizada no tratamento de carcinomas de células escamosas.

“As duas formas de cirurgia podem ser realizadas tanto por via aberta/convencional ou de maneira minimamente invasiva. Porém, quando se emprega a minimamente invasiva – por laparoscopia ou robótica, as incisões são bem menores, resultando em menor risco de sangramento, menos dor e mais rápida recuperação”, destaca Pinheiro. 

Qual é o caminho do alimento após a retirada do esôfago? – Uma importante indagação dos pacientes é como ficará o trânsito do alimento após a esofagectomia. Isso porque é o esôfago que faz a ligação entre a garganta e o estômago, sendo, portanto, fundamental no processo digestivo. Rodrigo Pinheiro explica que, para reconstruir o canal e viabilizar o trânsito alimentar, é elevado o estômago até a porção remanescente do tubo esofágico, conectando-os na região torácica ou cervical.

“Outra possibilidade é confeccionar um novo tubo gástrico com tecidos extraídos de outros órgãos do sistema digestivo, como estômago, intestino delgado ou intestino grosso”, acrescenta. Ainda segundo o presidente da SBCO, é importante que a estrutura tenha curvatura adequada e calibre similar ao do esôfago original, sendo suturada manualmente ou com o uso de grampeadores automáticos.

Cirurgia, fase de diagnóstico e sobrevida em cinco anos – A escolha da terapêutica mais adequada para tratar o câncer de esôfago se baseia no estadiamento (fase em que a doença é diagnosticada, que vai de 0 a IV) e nas condições de saúde geral do paciente. A cirurgia costuma ser indicada para portadores de tumores em estágios iniciais e tem objetivo curativo. Para tumores em estágio 0 ou I (iniciais) pode-se recomendar a remoção do tumor por esofagectomia ou via ressecção (retirada) endoscópica da mucosa.

Dependendo das características, pode-se indicar, ainda, quimioterapia e radioterapia (prévias ou posteriores ao procedimento). Para tumores em estágios II e III, quando houve disseminação para linfonodos e para órgãos próximos, geralmente, indica-se a quimiorradiação (quimioterapia e radioterapia) seguida de cirurgia. Mas, em caso de tumores pequenos, pode-se realizar o tratamento cirúrgico isolado.

Já para tumores em estágio IV, com metástases à distância, busca-se aliviar os sintomas e retardar a progressão da doença com tratamentos não cirúrgicos. Em estágios muito avançados é possível indicar um procedimento cirúrgico com intuito paliativo, visando melhorar a qualidade de vida do paciente. É o caso, por exemplo, da cirurgia para colocação de sonda de alimentação. 

Dados do levantamento SEER do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos (NCI) apontam que quase metade (48,1%) dos pacientes com câncer de esôfago descoberto em fase inicial chegam aos cinco anos de sobrevida após o tratamento. “Aumentar as taxas de diagnóstico precoce é a principal medida para redução da mortalidade por câncer de esôfago”, afirma o presidente da SBCO. Um alerta importante é que, ainda segundo o NCI, quatro entre dez casos de câncer de esôfago são diagnosticados já com a ocorrência de metástase.

Sintomas que alertam para câncer de esôfago e busca por diagnóstico 

A SBCO alerta que o câncer de esôfago em fase inicial geralmente não causa sinais ou sintomas. Porém, nas ocorrências destes sinais, é recomendado consultar um médico. 

– Dificuldade em engolir (disfagia)
– Perda de peso sem causa definida 
– Dor no peito ou queimação
– Piora da digestão ou azia
– Tosse ou rouquidão

Vale ressaltar que a pessoa com histórico de esôfago de Barrett, uma condição pré-cancerosa causada por refluxo ácido crônico, tem um risco maior de desenvolver câncer de esôfago e pode haver a recomendação de rastreamento. Para tanto, é importante discutir os prós e os contras dos exames com um especialista. Os testes e procedimentos usados para diagnosticar o câncer de esôfago incluem:

Estudos Radiológicos: durante estes estudos, o paciente pode engolir um líquido que inclui contraste e depois faz exames de imagem. O contraste reveste o interior do esôfago, que pode mostrar alterações no tecido. 
Endoscopia: o médico passa um tubo flexível equipado com uma lente de vídeo (videoendoscópio) pela garganta até o esôfago. Usando o endoscópio, o médico examina o esôfago em busca de câncer ou áreas de irritação.
Coleta de uma amostra de tecido para teste (biópsia). Por endoscopia, é retirada uma amostra de tecido que, por sua vez, é enviada a um laboratório para procurar células cancerígenas. O objetivo é determinar a extensão do câncer. 

Assim que o diagnóstico de câncer de esôfago for confirmado, o médico poderá recomendar exames adicionais para determinar se o câncer se espalhou para os gânglios linfáticos ou para outras áreas do corpo. Os exames podem incluir:

– Broncoscopia
– Ultrassom endoscópico (EUS)
– Tomografia computadorizada (TC)
– Tomografia por emissão de pósitrons (PET)

Sobre a SBCO – Fundada em 31 de maio de 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) é uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, que agrega cirurgiões oncológicos e outros profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar ao paciente com câncer. Sua missão é também promover educação médica continuada, com intercâmbio de conhecimentos, que promovam a prevenção, detecção precoce e o melhor tratamento possível aos pacientes, fortalecendo e representando a cirurgia oncológica brasileira. É presidida pelo cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro (2023-2025). 

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