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Município foi pioneiro ao implantar o FIB como modelo de gestão municipal.
Criado em 1972 pelo rei Jigme Singye Wangchuck, do Butão, o FIB (Felicidade Interna Bruta) é um parâmetro de desenvolvimento para medir o bem-estar social de uma população, considerando aspectos emocionais, sociais, culturais e ambientais. O indicador foi criado como forma complementar ao Produto Interno Bruto (PIB), que mede o valor em dinheiro de todos os bens e serviços finais produzidos em um país, estado ou cidade.
Recentemente, o conceito chegou ao Brasil e foi implantado na cidade de São Gonçalo do Abaeté (MG), situada a 380 km da capital Belo Horizonte. A cidade conta com 7.375 habitantes e implantou o FIB como forma de gestão municipal, aplicando técnicas da Ciência da Felicidade para melhorar a qualidade de vida da população.
De acordo com a primeira dama do município, Kelly Braga, que também é Secretária de Governo e Planejamento, psicóloga e professora universitária, para medir o FIB na cidade foram analisadas nove dimensões dos envolvidos: bem-estar psicológico, saúde, uso do tempo, vitalidade comunitária, educação, cultura, meio ambiente, padrão de vida e governança.
“Em 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução incentivando outros países a adotarem o FIB como uma forma de contribuir para melhoria do nosso mundo. Em 2021, iniciamos a implementação do FIB em São Gonçalo, com o apoio do Núcleo de Inovação Cidades Felizes, que se dedica ao estudo e práticas do FIB e já possui experiência de implementação em outras cidades e organizações. Foi um processo gradual e colaborativo, sendo que o primeiro passo foi sensibilizar a população e as lideranças políticas sobre a importância de pensar o desenvolvimento da cidade de maneira mais holística. Para isso, foram realizadas oficinas, debates e consultas públicas, envolvendo moradores, professores, líderes comunitários e representantes de organizações não governamentais”, explica.
Segundo Kelly, um dos maiores desafios foi adaptar o modelo desenvolvido no Butão para a realidade do município. “Fizemos uma adaptação para o contexto brasileiro, levando também em consideração o perfil socioeconômico de São Gonçalo. Definimos indicadores para medir o bem-estar da população, que participou ativamente no processo de construção de políticas públicas, criando assim, uma sensação de pertencimento. Além da valorização das pessoas, o meio ambiente e a cultura local também foram contempladas no projeto ações voltadas para inteligência emocional nas relações interpessoais e no bem-estar coletivo”, destaca.
O conceito de FIB na cidade mineira envolve ainda iniciativas voltadas para a melhoria da qualidade de vida dos servidores públicos, com a implementação de práticas de gestão que visam a felicidade no ambiente de trabalho. “Implementamos um modelo de gestão pública mais inclusivo, reconhecendo que uma administração eficiente deve ir além dos indicadores tradicionais de desenvolvimento. Nosso objetivo é promover a felicidade não apenas como um estado individual, mas pensando no bem-estar coletivo, que está diretamente ligado à qualidade das relações humanas e à forma como as políticas públicas são estruturadas e executadas”, completa.
Resultados
Segundo a primeira dama, os primeiros resultados começaram a aparecer em diversas áreas. “A implantação do FIB trouxe impactos positivos em quase todas as áreas, desde a segurança, com a redução de índices de violência, até a melhoria das condições de saúde física e mental da população. Também sentimos reflexos na educação, com maior engajamento em atividades culturais e educativas fora do ambiente escolar e no meio ambiente, com projetos de reflorestamento, proteção das águas e incentivo à agricultura sustentável. O impacto dessas ações refletiu também na economia local, com o fortalecimento do comércio e a atração de novos investidores interessados em apoiar iniciativas que priorizam a responsabilidade social e ambiental”, ressalta.
Cidades Felizes
O sucesso da implementação do FIB em São Gonçalo representa um exemplo a ser seguido por outras cidades que desejam olhar para além das métricas econômicas e caminhar em direção a um modelo de desenvolvimento mais sustentável e inclusivo. Deste modo, o município tem se tornado referência para outras cidades que desejam adotar uma abordagem mais humana e holística.
Recentemente, Kelly Braga foi convidada para participar do V Congresso de Psicologia Positiva, realizado em novembro, na capital paulista, e do Felicidade Exponencial, evento internacional realizado em Curitiba, que contou com a participação do ex-ministro do Butão, Takur Powdel.
“O FIB é um convite a repensar as prioridades de toda a comunidade, colocando a qualidade de vida no centro das políticas públicas e das práticas sociais. Por isso, criamos o Núcleo de Inovação Cidades Felizes, que é ecossistema formado por uma equipe de profissionais e organizações especializados nas ciências do bem-estar e da felicidade aplicadas ao desenvolvimento humano e na gestão de governança de intuições públicas e privadas, com uma metodologia que permite a implementação de todas as dimensões do FIB”, conclui.
Sobre Kelly Braga
Líder do movimento Felicidade Interna Bruta em organizações públicas em Minas Gerais e cocriadora do projeto “Cidades Felizes”, Kelly Braga conta com 16 anos de experiência em gestão de pessoas e gestão pública, tendo atuado como analista e gestora de Recursos Humanos, consultora, professora e secretária municipal em diversas secretarias. Atualmente, é Secretária de Governo e Planejamento em São Gonçalo do Abaeté, além de docente em Felicidade Interna Bruta na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais. Também é consultora em projetos de Felicidade, Gestão de Pessoas e Gestão Pública.
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