Gabrielle Ribon, advogada e mestranda em Inovação e Empreendedorismo pela Universidade de Edimburgo / Foto: Divulgação
Apenas 10 em cada 100 empresas brasileiras está preparada para cumprir com as regulamentações da Inteligência Artificial Generativa (GenAI), tecnologia que permite criar conteúdo como imagens, textos, áudio, música e vídeos, a partir de dados pré-existentes, como o Chat GPT, por exemplo. O motivo para a baixa estatística é, principalmente, a falta de intimidade dos gestores com temas como segurança e privacidade de dados. Além disso, apenas uma em 20 organizações oferece um alto nível de treinamento sobre governança e monitoramento dessas ferramentas, o que as impede de garantir um uso ético e seguro das soluções.
Os dados constam numa pesquisa feita pelo SAS e conduzida pela Coleman Parkes com 100 executivos brasileiros tomadores de decisão em IA Generativa e data analytics, de empresas dos mais diferentes setores e portes. O estudo completo contempla 1600 gestores em 21 países e foi feito entre fevereiro e abril deste ano.
Gabrielle Ribon, advogada e mestranda em Inovação e Empreendedorismo pela Universidade de Edimburgo, explica que o desafio nas empresas brasileiras está na complexidade em unir as exigências da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) ao uso da IA Generativa que é, basicamente, de tratar dados. “A LGPD impõe restrições e obrigações rigorosas quanto ao uso e armazenamento de dados pessoais, não importando o tamanho da empresa”, diz.
O levantamento aponta ainda que 98% das empresas não têm uma estrutura de governança abrangente para GenAI e menos de uma em 20 organizações tem um sistema confiável para medir viés (4%) e risco de privacidade (4%) em “modelos de linguagem de grande escala” – conhecido como LLMs, um tipo avançado de modelo de linguagem que é treinado usando técnicas de aprendizado profundo em grandes quantidades de dados de texto. Esses modelos são capazes de gerar texto semelhante ao escrito por humanos. Outro dado é o de que mais de oito em cada dez organizações (84%) não são capazes de monitorar continuamente os sistemas de GenAI.
De acordo com Ribon, os executivos estão certos em preocupar-se com regras de Governança. Isso porque, a conformidade com a LGPD também requer uma gestão de dados eficiente, que inclui a criação de políticas internas, treinamento da equipe e a implementação de sistemas para monitoramento contínuo dos riscos de privacidade. “Não ter uma estrutura de governança abrangente para IA e GenAI expõe pequenas, médias e grandes empresas a penalidades severas caso ocorram violações de dados, como multa diária em cima do faturamento, suspensão do banco de dados, proibição do exercício de atividades de tratamento de dados de forma parcial ou total, entre outras penalidades previstas em lei”, enfatiza.
Para superar esses desafios, as empresas brasileiras devem investir em treinamento e capacitação de suas equipes, além de buscar soluções tecnológicas que facilitem a integração da IA generativa de maneira segura e escalável. Contar com parceiros especializados para apoiar a transição tecnológica também pode ser uma estratégia eficaz para minimizar riscos e maximizar os benefícios da inovação.
Atraso na implementação
A pesquisa ainda constatou que empresas brasileiras estão abaixo da média mundial no uso da Inteligência Artificial Generativa. Globalmente, 54% dos executivos ouvidos disseram que já estão usando ou em fase de implementação da tecnologia, enquanto no Brasil esse percentual é de 46%. Existe uma explicação para isso, de acordo com Gabrielle Ribon, que estuda inovação e empreendedorismo no Brasil e no exterior. “A adoção da GenAI não é simples, e no Brasil há desafios adicionais aos que outros países encontram para sua utilização”, afirma.
“Embora em desenvolvimento, a infraestrutura tecnológica brasileira ainda é limitada em comparação com grandes mercados globais. O alto custo de GPUs (do inglês Graphics Processing Unit, ou Unidade de Processamento Gráfico, necessárias para o treinamento de modelos de IA), e a demanda crescente por energia computacional são barreiras para empresas que desejam competir no desenvolvimento de suas próprias soluções de IA, por exemplo”, completa.
Para a especialista, a adoção da IA generativa e a conformidade com a LGPD são tarefas complexas, especialmente para empresas menores. “No entanto, com um planejamento estratégico adequado, políticas claras e o apoio de ferramentas tecnológicas eficientes, é possível para as empresas navegarem nesse novo cenário com mais segurança, competitividade e respeito aos dados dos usuários”, finaliza.