29 de maio de 2025

Startups inovam com tokenização da castanha da Amazônia

Crédito: Divulgação Zeno Nativo

A fintech ForestFi e a Zeno Nativo são duas startups com dna genuinamente amazônico que inovam com a proposta de investimento em cadeias de manejo sustentável. Na parceria, uma entrou com a tecnologia e outra com o produto

A cultura de investimento tem ganhado cada vez mais força, há diversas opções para perfis mais conservadores, como Tesouro Direto, CDB e LCI, além de outras que atendem investidores moderados e arrojados. E agora, interessados em ganhar com investimentos que ampliam o lucro para algo além do dinheiro, aliando benefícios – como manter a floresta em pé e fortalecer as cadeias de produtos da sociobiodiversidade da Amazônia – ao retorno financeiro, encontraram a opção perfeita: os tokens de castanha da Amazônia.

A inovação é fruto de um projeto entre a ForestiFi, uma fintech de Manaus especializada em investimentos de impacto, e a Zeno Nativo, que produz e comercializa produtos da floresta junto às populações tradicionais que vivem próximas ao Rio Acará (PA). Ambas são startups que fazem parte do portfólio da AMAZ, a maior aceleradora de negócios de impacto da Região Norte, com foco em empresas que atuam na Amazônia Legal.

Em abril deste ano, as startups transformaram 1.850 quilos de castanha da Amazônia em ativos digitais e arrecadaram R$ 114,7 mil em investimentos. Ao todo, 82 pessoas participaram da campanha, adquirindo 4.588 tokens vendidos a R$ 25 cada. Com um retorno previsto para setembro (cinco meses), a expectativa é que cada token seja resgatado por R$ 26,69 — um acréscimo de R$ 1,69. Isso representa uma valorização de R$ 7,7 mil sobre a safra tokenizada e uma movimentação final de R$ 122,4 mil.

O valor captado será repassado diretamente para mais de 50 famílias extrativistas da região do Rio Acará (PA), de onde vieram as castanhas tokenizadas nesta campanha.

Glauco Aguiar, cofundador da ForestiFi, é um dos responsáveis pela inovação. Ele já trabalhou com outros produtos da sociobiodiversidade amazônica, incluindo cacau nativo, pirarucu de manejo e guaraná selvagem, mas afirma que sempre houve interesse em tokenizar a castanha e potencializar a geração de renda para a população que trabalha com a cadeia sustentável.

“Isso permite que pequenos produtores, tradicionalmente excluídos do sistema financeiro, acessem recursos. […]. Mostramos que a castanha extraída anualmente é um ativo legítimo, capaz de servir como lastro para a captação de recursos”, detalha.

O procedimento, entretanto, não se limita à criação de um sistema de compra e venda de ativos com amparo da tecnologia blockchain. Há necessidade de análise de governança, segurança jurídica e contábil das organizações interessadas em tokenizar seus produtos, para garantir o sucesso das rodadas de investimento. “Isso nos permite enfrentar as complexidades logísticas da região amazônica de maneira estruturada e eficiente”, complementa.

Além disso, Glauco reforça que a tokenização é uma ferramenta aliada para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, pois estimula o amadurecimento organizacional dos grupos produtores, o que se reflete em melhores práticas de gestão, aumento da eficiência produtiva e valorização dos produtos da sociobiodiversidade.

Produção sustentável e valorização da sociobiodiversidade 

Outro ator fundamental no processo de tokenização é Zeno Gemaque, cofundador da Zeno Nativo. A parceria nasceu durante uma ação de networking promovida pela AMAZ. Após reuniões e visitas estratégicas, surgiu a ideia de inovar por meio da transformação da castanha em ativos digitais. Ele comemora o sucesso da iniciativa.

“Vamos comprar matéria-prima, no caso a castanha, para fazer o beneficiamento e comercializá-la. […]. Será uma média de 6,9 mil quilos de castanha, que vão beneficiar mais de 50 famílias extrativistas [do Rio Acará]”, explica o empreendedor. O beneficiamento é um processo que inclui seleção, descasque, desidratação, embalagem e logística da castanha.

Desde sua fundação, em 2012, a startup já comercializou mais de 15 toneladas de castanha e cinco de cacau fino, preservando mais de 17 mil hectares de floresta nativa, sempre com certificação orgânica emitida pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).

Atualmente, a Zeno Nativo trabalha em colaboração com mais de 300 famílias extrativistas da Amazônia, fortalecendo a preservação da floresta em pé e gerando renda para a população.

“Oferecemos produtos da sociobiodiversidade para mercados que valorizam rastreabilidade e práticas socioambientais sustentáveis. Isso é fundamental para apoiar a floresta em pé, combater a monocultura e a contaminação de rios, e fortalece uma economia que respeita a natureza e as pessoas”, complementa.

Entretanto, o Pará sofre com diversos problemas socioambientais, como queimadas e garimpo ilegal. De acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o estado foi o que registrou o maior índice de desmatamento no último ano. Foram 1.260 quilômetros quadrados (km²) desmatados.

Para mudar esse cenário, uma das alternativas mais viáveis é a diversificação das culturas, de forma que outros produtos da sociobiodiversidade regional ganhem valor.

“Temos interesse em tokenizar cacau no futuro, mas isso vai depender muito dos resultados da primeira experiência. Estamos testando o mecanismo, vendo como isso se comporta dentro da empresa, quais os resultados para os nossos fornecedores. A partir daí, vamos fazer uma avaliação e verificar a possibilidade de novas rodadas”, finaliza o empreendedor.

Reconhecimento internacional 

Este foi o sexto projeto da ForestiFi na Amazônia, que também envolve trabalhos com cacau nativo, pirarucu de manejo e guaraná selvagem. Isso se traduz em quase meio milhão de reais captados desde sua constituição, há dois anos.

Toda essa dedicação rendeu à ForestiFi o reconhecimento como uma das startups de sustentabilidade mais inovadoras do mundo pela Change 100, uma campanha da plataforma We Make Change com apoio de grandes parceiros, como Microsoft Entrepreneurship for Positive Impact e Techstars. O anúncio ocorreu durante o evento “Change Now”, realizado em Paris, no mês de abril.

O destaque da ForestiFi é o fortalecimento da bioeconomia amazônica através da tecnologia blockchain, conectando pequenos produtores rurais a mercados de investimento sustentáveis. A startup tem transformado o cenário de acesso à capital financeiro no Norte do Brasil, utilizando a tokenização como ferramenta para financiar atividades produtivas sustentáveis, proteger áreas de floresta e gerar impacto socioambiental positivo.

“Esse reconhecimento reforça a relevância do trabalho que desenvolvemos e abre portas para novas conexões internacionais. […]. Daqui para frente, vamos intensificar nossa estratégia de expansão, consolidando a ForestiFi como referência global em tokenização de ativos da natureza”, finaliza Glauco.

Sobre a ForestiFi 

A ForestiFi é uma plataforma de investimentos de impacto que conecta investidores a cadeias produtivas sustentáveis da Amazônia, utilizando tecnologia de tokenização para garantir rastreabilidade, liquidez e transparência. Já estruturou tokens vinculados a produtos como cacau nativo, pirarucu de manejo e guaraná selvagem.

Sobre a Zeno Nativo 

Fundada por Zeno Gemaque e Coi Belluzzo, a Zeno Nativo atua no município de Acará (PA), beneficiando castanhas e cacau nativos da floresta amazônica. Com foco em qualidade, rastreabilidade e valorização dos povos da floresta, a empresa atua nos modelos B2B, B2B2C e B2C, atendendo mercados nacionais e internacionais.

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