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O medo da legalização ainda é forte: 64,7% temem que a maconha fique mais acessível a menores de idade
Mais da metade dos brasileiros considera a falta de conhecimento sobre uso e efeito como principal motivador para o preconceito contra a maconha
São Paulo, maio de 2025 – A cannabis está deixando de ser tabu para se tornar tema de interesse público, econômico e de saúde no Brasil. 1 em cada 4 brasileiros já usou maconha, e 64,7% acreditam que o consumo da planta deve ser tratado como uma questão de saúde e segurança pública. O estudo ouviu mais de 1000 pessoas em todo o país no primeiro trimestre de 2025 e revela uma sociedade cada vez mais aberta ao diálogo e ao mercado canábico.
Entre os brasileiros que usaram e usam ainda hoje maconha (30,9%), 63% alegam que usaram por curiosidade; 37,5% por influência de amigos; 24,3% por busca de relaxamento, enquanto 7,4% usaram na tentativa de lidar com ansiedade,depressão e problemas emocionais.
“Hoje, a discussão sobre a cannabis no Brasil já saiu do campo, está conectada com saúde, economia e liberdade de escolha. O brasileiro quer se informar e tomar decisões conscientes”, afirma Ligia Mello, CSO da Hibou.
Maconha, álcool e tabaco dividem o mesmo espaço na percepção popular
85,6% da população geral considera a maconha uma droga, o número é praticamente o mesmo para o álcool (85,2%), enquanto o tabaco aparece logo atrás, com 82,4%. Ou seja, mesmo sendo uma droga proibida, a maconha já ocupa no imaginário coletivo um espaço próximo ao de substâncias legalizadas.
Essa equiparação também se reflete na prática: 26,4% dos brasileiros afirmaram já ter experimentado cannabis, um índice apenas 10 pontos percentuais abaixo do tabaco (36,2%). O álcool, por outro lado, segue como o mais difundido, com 78,6% de experimentação, indicando seu papel culturalmente estabelecido no Brasil.
Desinformação ainda é principal barreira
Para 53,2% dos brasileiros, o principal motivo do preconceito contra a maconha é a falta de conhecimento sobre seus usos e efeitos. Outros fatores citados incluem a proibição legal (36,5%), a forma como o tema é tratado pela mídia (33,6%) e a influência familiar (31,8%).
“O brasileiro tem muitas dúvidas e medos, em parte por falta de fontes confiáveis e debates abertos. Quando a informação circula, o julgamento tende a ser mais racional”, afirma Ligia Mello, CSO da Hibou.
Brasileiro quer cuidado, não repressão
A principal mudança apontada pelo estudo é de abordagem: 64,7% dos brasileiros acreditam que o consumo da maconha deve ser tratado sob a ótica da saúde e da segurança pública Apenas 22,7% consideram somente uma questão de saúde pública.
A tendência acompanha o movimento global, em que países vêm revendo suas políticas de drogas com foco em saúde, educação e até arrecadação de impostos – sobretudo em cenários de crise fiscal.
Quem usa maconha? Isso depende
A visão sobre o usuário de cannabis também está mudando. Para 59,2% dos brasileiros, a imagem do consumidor depende do contexto. Ainda assim, 23,8% o associam à normalidade, enquanto 16,8% o consideram irresponsável e 15,8% enxergam os usuários como doentes. Já 6,1% consideram as pessoas que usam maconha como criminosas.
“Essas percepções demonstram o quanto a sociedade ainda oscila entre o julgamento e a tentativa de compreender o outro. Há um espaço importante para quebrar preconceitos com informação e escuta”, diz Ligia Mello.
Medo da legalização mostra sociedade ainda despreparada
Mesmo com o debate amadurecendo, o medo da legalização ainda é forte: 64,7% temem que a maconha fique mais acessível a menores de idade, seguido por preocupações com fiscalização (43,7%), aumento do consumo geral (42%), criminalidade (37,4%), impacto na saúde pública (37,2%), acidentes de trânsito (24,3%) e queda de produtividade no trabalho (19,3%).
Por outro lado, 14,1% afirmam não ter nenhum receio quanto à legalização, o que indica uma parcela da população mais segura e bem informada sobre o tema.
6 em cada 10 brasileiros (64,6%) afirmam que a regulamentação deveria acontecer no Brasil mas com ressalvas. Segundo a opinião deles, 57,3% apoiam a legalização da cannabis para uso medicinal e recreativo controlado, e 36% são favoráveis à liberação apenas do uso medicinal.
Entre o tabu e a informação: o Brasil em transição
A pesquisa da Hibou em parceria com a empreendedora da área Viviane Sedola revela um Brasil dividido: de um lado, a tradição proibicionista e a desinformação; de outro, uma população que começa a tratar o assunto com mais seriedade e perspectiva pública. O fato de que 1 em cada 4 brasileiros já usou cannabis, somado ao desejo da maioria de que o consumo seja tratado como tema de saúde, mostra que a realidade já está mudando – mesmo que a legislação ainda não acompanhe esse movimento.
“O consumo de cannabis é uma realidade para muitos brasileiros. Ignorá-la é manter estigmas que impedem políticas públicas mais humanas e eficazes”, conclui Ligia Mello.
Sobre a Hibou
A Hibou é uma empresa especializada em pesquisa e insights de mercado e consumo, atuante há mais de 15 anos. A Hibou trabalha o tempo todo com informação e olhares inquietos sempre do ponto de vista do consumidor. A empresa produz conteúdo qualificado utilizando ferramentas proprietárias para aplicação de pesquisas e análises de profissionais com mais de 25 anos de experiência. A Hibou oferece pesquisas qualitativas, quantitativas; exploratórias; de profundidade; de campo; dublê de cliente; desk research; monitoramento de comportamento e insights; presença de marca; expansão de região; expansão de mercado para produtos e serviços; teste de produto e hábitos de consumo.