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Especialista em arritmias cardíacas, a cardiologista Julianny Freitas Rafael explica como este problema no coração está vitimando jovens profissionais do esporte
Exercício físico é a chave para uma vida mais saudável, certo? Então, por qual motivo o mundo do esporte é abalado por tantos casos de morte súbita envolvendo jovens atletas? Embora o exercício físico seja amplamente recomendado para a manutenção de uma boa saúde, essa paradoxal realidade chama atenção para a necessidade de maior vigilância quanto às arritmias cardíacas, condição muitas vezes silenciosa que pode ser fatal.
Há poucos dias, um desses casos foi o do jogador uruguaio Juan Izquierdo, de 27 anos, que sofreu uma parada cardíaca e faleceu durante uma partida de futebol no Brasil. Izquierdo estava em campo pelo Nacional (Uruguai), quando colapsou subitamente, vindo a falecer após dias internado devido a uma arritmia cardíaca não diagnosticada anteriormente.
Casos como o de Izquierdo não são isolados. Em julho de 2024, o atleta chinês de badminton, Zhang Zhijie, de apenas 17 anos, desmaiou e morreu na quadra durante um torneio internacional na Indonésia, vítima de uma parada cardíaca súbita. Em 2021, o episódio com o jogador dinamarquês Christian Eriksen, que sofreu uma parada cardíaca em pleno jogo da Eurocopa, ainda está fresco na memória de muitos. No Brasil, o caso do ex-jogador Serginho, do São Caetano, que morreu em 2004 aos 30 anos de idade durante uma partida, é um exemplo trágico de como esse problema pode acometer atletas em plena atividade.
Esses e outros episódios levantam questões sobre a saúde dos atletas, que, apesar de levarem um estilo de vida saudável e estarem em excelente forma física, não estão imunes a problemas cardíacos fatais. “A prática de atividades físicas intensas pode, em alguns casos, desencadear arritmias em indivíduos predispostos, mesmo que sejam atletas de alta performance”, alerta a Dra. Julianny Freitas Rafael, cardiologista especialista em arritmias.
Entenda o que é arritmia cardíaca
A arritmia cardíaca, condição que causou a morte de Izquierdo, é uma alteração no ritmo dos batimentos cardíacos, que pode levar a sérias complicações, incluindo a morte súbita. Esse tipo de morte é definida como a parada cardíaca inesperada que ocorre em uma pessoa aparentemente saudável, geralmente dentro de uma hora após o início dos sintomas. A morte súbita é mais comum do que se imagina, e embora muitas vezes esteja associada a doenças cardíacas preexistentes, em muitos casos, como o de Izquierdo, a condição subjacente não é diagnosticada a tempo.
Estatísticas indicam que a morte súbita cardíaca é responsável por até 20% das mortes em jovens atletas, e arritmias como a fibrilação ventricular são frequentemente a causa subjacente. Infelizmente, esses problemas cardíacos muitas vezes permanecem ocultos, pois os atletas, devido à sua excelente condição física, podem não apresentar sintomas que levem a um diagnóstico precoce.
A médica cardiologista explica: “O coração de um atleta pode sofrer sobrecarga devido ao esforço físico intenso e constante, e se houver uma predisposição genética ou uma condição cardíaca não diagnosticada, isso pode resultar em arritmias graves. Infelizmente, esses casos muitas vezes passam despercebidos até que seja tarde demais.”
Como prevenir?
O diagnóstico precoce de arritmias e outras condições cardíacas em atletas é essencial para prevenir tragédias. Testes como o eletrocardiograma (ECG) e o ecocardiograma, podem detectar anormalidades no ritmo cardíaco, permitindo intervenções que podem salvar vidas. “O diagnóstico precoce é de extrema importância, especialmente em atletas jovens que são expostos a intensas cargas de exercício físico. Exames regulares podem detectar arritmias antes que elas se manifestem de forma fatal”, acrescenta a Dra. Julianny.
Além destes, exames mais detalhados podem ser indicados, como o Holter de 24 horas, que monitora a atividade elétrica do coração durante um dia inteiro, identificando possíveis irregularidades. De acordo com a cardiologista, “o tratamento varia conforme a gravidade da arritmia e pode incluir medicação, mudanças no estilo de vida, ou até mesmo a implantação de dispositivos como marcapassos”. É fundamental que atletas, treinadores e equipes médicas estejam atentos aos sinais e sintomas que podem preceder uma arritmia, como palpitações, tonturas, desmaios e cansaço extremo, mesmo em atividades de baixa intensidade. “A conscientização e o acompanhamento médico regular podem salvar vidas, especialmente em um cenário onde a prevenção ainda é o melhor remédio. O coração de um atleta pode ser forte, mas não é invulnerável”, finaliza a Dra. Julianny Freitas Rafael.
Sobre a Dra. Julianny Freitas Rafael – Médica cardiologista. Arritmologista da Casa de Saúde São José (CSSJ), Instituto Nacional de Cardiologia (INC) e Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC). Médica Cardiologista da Unidade Coronariana da CSSJ. Mestre em Ciências Cardiovasculares pelo INC. Especialista em Estimulação Cardíaca Eletrônica Implantável pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) / DECA AMB. Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)/ Associação Médica Brasileira (AMB). Especialista em Arritmia, Eletrofisiologia e Estimulação Cardíaca do Hospital Quali Ipanema. Capixaba, mas mora no Rio de Janeiro desde 2012. Mãe orgulhosa da Maria Luiza, de 6 anos.