O aprendizado escolar é complexo e não se limita somente às questões que envolvem aulas, provas, seminários e trabalhos. Um exemplo é a questão da qualidade do sono do aluno e sua relação com o aprendizado. De acordo com Camila León (foto), Doutora em Distúrbios do Desenvolvimento, existe uma relação direta entre dormir bem, aprender e o processo de consolidação das memórias. León explica que alunos que demonstram sonolência durante as aulas, alterações de humor como irritação, falta de interação social e conflitos interpessoais, além de baixa concentração, interesse reduzido e queda no desempenho escolar, podem não estar dormindo o suficiente.

Os benefícios do sono não se limitam somente ao descanso e “recuperar as energias”, mas “o sono não é simplesmente um momento de descanso, mas sim um estado ativo do cérebro no qual há um rearranjo de redes neurais associadas ao aprendizado e à consolidação da memória, entre outros processos fisiológicos” explica León citando a Associação Brasileira do Sono (ABS). O ciclo do sono tem diversas fases, sendo que quando há o reforço do Rapid Eye Movement (REM) – fase do sono em que ocorrem atividades fisiológicas distintas como aumento da atividade cerebral, respiração profunda e relaxamento muscular – há uma melhora na retenção das memórias.

Cada faixa etária, uma necessidade

A doutora explica que a qualidade do sono não se expressa de maneira homogênea, sendo que há recomendações internacionais de mínimo e máximo de horas dormidas. De acordo com as recomendações de duração do sono da Fundação Nacional do Sono Americana, as orientações são:

 Assim, “pais e professores devem priorizar o sono dos filhos/estudantes independentemente da faixa etária, a fim de monitorar os sintomas de privação e as suas consequências em termos de habilidades cognitivas, sociais e emocionais”, conta a doutora. 

Parceria com a escola

 A escola pode ser um parceiro na qualidade do sono do aluno? Para León, a resposta é afirmativa, porém deve-se levar em conta vários fatores, dependendo do segmento de ensino, considerando a carga horária das escolas em função dos horários de trabalho dos pais e do comércio. “Pensando nos diferentes segmentos de ensino, é mais comum e viável fazer a “hora da soneca” ou “hora do soninho” na educação infantil e no ensino integral. Já do ensino fundamental ao ensino médio, o ideal seria a escola aconselhar e orientar os pais para uma melhor mediação da higiene do sono, algo que até muitas famílias desconhecem ou valorizam nestas faixas etária”, explica.

            A Associação Brasileira do Sono (ABS) preparou uma Cartilha Sono para Crianças e Adolescentes. Algumas recomendações são:

• Ir para cama com sono;
• Manter uma rotina regular no horário de se deitar e se levantar.;
• Manter o quarto escuro e silencioso à noite, além de temperatura confortável;
• Caso haja necessidade de se levantar durante a noite, usar lâmpadas adequadas evitando luz branca ou azul;
• Manter os animais que atrapalham o sono fora do quarto de dormir;
• Evitar fazer atividades na cama como: assistir TV, usar smartphones e jogar videogame;
• Evitar alimentação pesada e que contenha cafeína próximo do horário de dormir.
• Praticar exercícios físicos regularmente, preferencialmente longe do horário de se deitar.

As características do aluno na escolha do período escolar

Por fim, a Doutora Camila León que também é docente no futuro curso de Especialização em Neurociência e Aprendizagem na Educação da USP/ESALQ nas disciplinas  de Estratégias de Intervenção e Desenvolvimento das Funções Executivas e também Memória e Aprendizagem: Fundamentos e Aplicações, explica que os pais devem levar em conta o cronotipo – preferência individual de uma pessoa em relação ao momento do dia em que se sente mais alerta e enérgica, bem como seus padrões de sono – ao realizar à matrícula do filho. Há crianças e adolescentes que são matutinos, ou seja, que preferem dormir e acordar mais cedo, apresentando melhor rendimento no início do dia. Já os vespertinos, preferem dormir e acordar mais tarde, com melhor desempenho das atividades à tarde e à noite, resume Leon. Ainda para a doutora, “O ideal seria a escola ofertar horários de ensino de todos os segmentos de ensino nos períodos da manhã e à tarde, a fim de atender aos diferentes cronotipos”.