27 de novembro de 2024

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Diagnosticar, identificar as causas e tratar: saiba mais sobre lipedema

Foto: Freepik

“Se a causa não for tratada, a cirurgia pode prejudicar”. Ainda não tem cura, mas há tratamentos que podem resgatar a qualidade de vida 

O lipedema (lipo = gordura + edema = inchaço) afeta mais de 10% das mulheres e é caracterizado pelo acúmulo anormal de gordura nas pernas e, em alguns casos, nos braços, causando dor, inchaço, dificuldade de locomoção e autoestima baixa.

O cirurgião plástico Dr. Fernando Amato, que integra uma equipe especializada no assunto, responde abaixo às principais dúvidas sobre lipedema e alerta: “A cirurgia não pode ser a primeira e única opção”.

Quais os sintomas do lipedema?

Dr. Fernando Amato – Os principais sintomas do lipedema são o aumento do volume das pernas, coxas e/ou braços desproporcionalmente ao restante do corpo; geralmente o acúmulo de gordura ocorrer dos dois lados; queixa principal de alteração da sensibilidade, podendo relatar dor, dor ao toque, queimação e peso; inchaço; sensação de peso e cansaço nas pernas; dificuldade de locomoção; autoestima baixa e impacto negativo na qualidade de vida.

Existe algum fator responsável por causa o lipedema?

Dr. Fernando Amato – A causa é multifatorial, o que dificulta o diagnóstico e tratamento, mas envolve desde fatores genéticos e familiares, como fatores hormonais, uso de medicações, hormônios, doenças crônicas, alterações venosas e linfática. Porém, existe uma forte relação do surgimento do lipedema com histórico familiar, puberdade, gravidez e menopausa, além da obesidade. Outro ponto: a maior parte dos pacientes com lipedema é composta pelo sexo feminino, sendo extremamente raros no sexo masculino.

O lipedema pode se apresentar em níveis diferentes?

Dr. Fernando Amato – Sim, classificamos em estágios, de acordo com a gravidade da doença:

● Estágio 1: Leve aumento do volume, sem alterações na textura da pele;

● Estágio 2: Aumento moderado do volume, com textura da pele irregular;

● Estágio 3: Aumento significativo do volume, endurecimento e espessamento do subcutâneo com nódulos grandes e coxins de gordura;

● Estágio 4: lipedema com comprometimento linfático, linfedema. Conhecido como lipolinfedema.

Como é feito o diagnóstico?

Dr. Fernando Amato – O diagnóstico é feito por um médico especialista, considerando-se principalmente os sintomas, o histórico do paciente e a realização de exames físicos. Os complementares, como ultrassom, ressonância magnética, linfografia, densitometria e bioimpedância, podem auxiliar no diagnóstico ou excluir outras patologistas com apresentações semelhantes.

Lipedema tem tratamento?

Dr. Fernando Amato – Não existe uma cura, mas é uma condição em que é possível e necessário resgatar a qualidade de vida da paciente. E, ao contrário do que muitos pensam, a cirurgia não é a primeira opção e deve ser vista como uma alternativa, quando o tratamento clínico não encontra resultados, ou por questões estéticas.

O tratamento do lipedema é individualizado e depende do estágio da doença. As opções de tratamento podem incluir medicamentos, suplementos e vitaminas, dieta, terapias conservadoras e entre elas cito a fisioterapia, drenagem linfática, uso de meias compressivas e controle do peso; e como a última opção, quando nenhuma medida clínica apresentou mudanças, ou apresentou mudanças parciais, preferencialmente com estabilização dos sintomas, pode ser recomendado a realizado da lipoaspiração, técnica cirúrgica para remover o excesso de gordura “doente”.

Por que a cirurgia não deve ser a primeira linha de tratamento?

Dr. Fernando Amato – Porque antes de partir para uma cirurgia, é preciso identificar a causa da doença e tratá-la. Se a causa não for identificada e tratada, a cirurgia pode trazer melhora temporária, mas a longo prazo pode ter retorno dos sintomas.

O lipedema pode ser visto como um ICEBERG, em que na superfície vemos apenas os sintomas e abaixo todas as alterações que podem causar a condição. Se retirarmos apenas a gordura e não tratarmos a causa do lipedema, estamos apenas tirando a gordura inflamada, o que pode trazer uma melhora dos sintomas temporariamente. A longo prazo, se os fatores que contribuíram para o desenvolvimento da doença continuarem existindo, a paciente poderá acumular gordura em outras partes do corpo, e poderá desenvolver o lipedema em outras partes que não eram sintomáticas.

Portanto, a orientação é procurar um especialista, identificar por meio de uma boa e detalhada investigação clínica o que causa o lipedema, colocar em prática os tratamentos citados acima e fazer a modificação de estilo de vida, que é fundamental no tratamento: alimentação equilibrada e de qualidade nutricional, atividade física frequente, diminuir ou não beber álcool e não fumar já vão ajudar expressivamente no tratamento.

A cirurgia, como a lipoaspiração, não pode ser a primeira opção no tratamento e deve ser considerada quando as tentativas citadas no texto não deram o resultado esperado. A lipoaspiração pode ser considerada a partir daí para remover o excesso de tecido adiposo, mas deve ser avaliada caso a caso por um especialista. Mas ressalto: sem mudança no estilo de vida a cirurgia pode ser frustrante.

Sobre o Dr. Fernando C. M. Amato – Graduação, Cirurgia Geral, Cirurgia Plástica e Mestrado pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP). Membro Titular pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, membro da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) e da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (ASPS).

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