Para especialista, investir na capacitação dos trabalhadores é crucial para aproveitar oportunidades e evitar que o Brasil perca terreno no mercado global. / Crédito da foto: Aniele Nascimento
Relatório de Oxford aponta a necessidade de requalificação dos trabalhadores para enfrentar as mudanças provocadas pela inteligência artificial
À medida que a inteligência artificial conquista espaço no ambiente corporativo, fica cada vez mais evidente a necessidade de os profissionais acompanharem as novidades tecnológicas para não correr o risco de, a médio prazo, tornar-se um “excluído digital”. Pelo menos é isso o que aponta o relatório produzido em 2023 pelo economista Carl-Benedikt Frey, professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido. O estudo mostra a necessidade urgente de preparação e requalificação dos profissionais para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades oferecidas pela evolução da inteligência artificial.
O empresário Frederico Stockchneider, diretor de tecnologia na InfoWorker Tecnologia e Treinamento, reforça a urgência de adaptação e preparação dos profissionais de todas as áreas de atuação diante do avanço da inteligência artificial. “A IA é uma ferramenta que chegou para ficar, assim como aconteceu com o computador, o smartphone e tantas outras ferramentas que o cidadão incorporou ao cotidiano. Quem ficar alheio a tudo isso acabará, a médio prazo, tornando-se um excluído digital. No mercado de trabalho é a mesma coisa, os postos de trabalho estão se transformando”, comenta.
O relatório de Carl-Benedikt Frey pontua que é um equívoco considerar a inteligência artificial generativa – como é o caso do ChatGPT – como uma tecnologia que eliminará postos de trabalho. Isso porque, ao facilitar uma série de tarefas, as ferramentas de IA têm o potencial de aumentar a produtividade e abrir portas para empregos mais qualificados. No entanto, além de exigir profissionais mais preparados, por outro lado vai acabar afetando os salários dos trabalhadores que não se enquadram nesse cenário.
Stockchneider afirma que isso já é perceptível em vários segmentos. Operadores de telemarketing, cobradores de ônibus e balconistas de serviços de alimentação são algumas profissões bastante vulneráveis e que, aos poucos, vêm sendo substituídas por plataformas automatizadas. O avanço tecnológico está transformando rapidamente o mercado de trabalho no Brasil e em todo o mundo. Isso pode levar a um aumento do desemprego entre os trabalhadores que não buscarem se atualizar para acompanhar as demandas das empresas”, comenta.
Segundo o empresário, só na InforWorker – que implementa soluções corporativas da Microsoft e ainda desenvolve softwares de acordo com as necessidades de cada empresa – houve um aumento de mais de 500% na procura por ferramentas de IA ao longo do ano passado. “A inteligência artificial já está disponível há alguns anos para o mercado, mas, de uns tempos para cá, a procura por esse tipo de serviço cresceu exponencialmente”, afirma.
O impacto da IA generativa no mercado de trabalho depende, em grande parte, da velocidade dos avanços tecnológicos e das desigualdades na qualificação dos trabalhadores. Segundo a pesquisa de Frey, países emergentes, como o Brasil, vão precisar investir em educação básica para aproveitar a onda de novos empregos gerados pelas inovações tecnológicas.
O relatório também mostra que o Brasil enfrentará desafios significativos se não houver avanços na educação e no treinamento profissional. Além disso, os trabalhadores menos qualificados correm o risco de enfrentar um desemprego estrutural, enquanto as atividades mais tecnológicas podem sofrer com a escassez de mão de obra qualificada.
“O cenário é desafiador e, sem mão de obra qualificada, corremos o risco de limitar nosso potencial de inovação e desenvolvimento tecnológico. Investir na capacitação dos trabalhadores é crucial para garantir que estejamos preparados para os desafios e oportunidades que as novas tecnologias trazem. Precisamos agir agora para evitar um futuro em que o Brasil perca terreno no mercado global devido à falta de profissionais qualificados”, salienta Stockchneider.
Segundo o Fórum Econômico Mundial (WEF), a expectativa é de que, até 2027, cerca de 23% dos empregos mudem de configuração, com a criação de 69 milhões de novos postos de trabalho e a eliminação de outros 83 milhões. Os empregos de crescimento mais rápido serão os de especialistas em IA e aprendizado de máquina, especialistas em sustentabilidade, analistas de inteligência de negócios e especialistas em segurança da informação. O maior crescimento absoluto é esperado nos setores de educação, agricultura e comércio digital.